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A cidade de Chernobyl, na Ucrânia, 33 anos depois do acidente nuclear
A cidade de Chernobyl, na Ucrânia, 33 anos depois do acidente nuclear| Foto: Eduardo de Abreu / Arquivo Pessoal

Uma série de televisão sobre o pior acidente nuclear do mundo está trazendo a atenção de milhões de telespectadores para os riscos da energia atômica, enquanto a indústria luta para ganhar força em mercados inundados pela energia renovável.

A minissérie "Chernobyl", da HBO, deve terminar em 6 de junho, depois de atrair milhões de telespectadores com imagens de um "pavor que nunca se dissipa", segundo uma resenha do site de críticas de cinema e televisão Rotten Tomatoes. O programa narra o acidente nuclear catastrófico que contaminou uma área da Ucrânia 40 vezes maior que Manhattan, em 1986. O incidente ainda reverbera pela indústria nuclear, que continua sendo uma das fontes mais importantes de eletricidade de baixa emissão de carbono no mundo.

"Preocupações do público sobre a segurança das operações contínuas em reatores nucleares envelhecidos poderiam levar a uma mudança na política pública e regulamentação mais rigorosa, o que poderia tornar as extensões do tempo de operação e novas construções economicamente inviáveis ​​ou mesmo impossíveis", disse a Agência Internacional de Energia nesta semana em um relatório. A instituição, com sede em Paris, prevê um "declínio acentuado" na geração nuclear na próxima década, com "consequências de longo alcance" para a segurança energética e o clima.

Juntamente com o acidente em Three Mile Island, nos Estados Unidos em 1979, e os desastres na usina japonesa Dai-Ichi, em Fukushima, em 2011, Chernobyl ocupa o palco central na série de incidentes que abalaram a confiança pública na energia nuclear nas últimas quatro décadas. Novos projetos de reatores foram descartados após cada incidente e o número de construções nunca mais voltou a ser como era no auge da energia nuclear na década de 1970, de acordo com os dados mais recentes.

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  • Duga-3, sistema de radar soviético que funcionou de julho de 1976 a dezembro de 1989
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A desconfiança pública e a falta de investimento significam que as economias avançadas poderiam perder o que tem sido uma de suas maiores fontes de eletricidade de baixo carbono nas últimas três décadas, disse o diretor-executivo da AIE, Fatih Birol, em um comunicado na segunda-feira. Cerca de US$ 340 bilhões terão que ser investidos em novas unidades de geração de baixa emissão até 2040, já que os antigos reatores estão aposentados.

"As energias eólica e solar precisam desempenhar um papel muito maior para que os países cumpram as metas de sustentabilidade, mas é extremamente difícil que eles consigam sem a ajuda da energia nuclear", disse Birol.

Uma das principais implicações dos acidentes foi o aumento do tempo necessário para construir um reator, conforme novos regulamentos e requisitos de segurança aumentavam os tempos de construção. Esse é um elemento importante na economia da energia nuclear, porque os gastos de capital são feitos no início do projeto, e o faturamento pelas vendas de eletricidade começa somente depois que a instalação começar a gerar eletricidade.

As unidades russas levavam em média menos de seis anos para serem concluídas antes de Chernobyl, mas mais de 17 anos durante as duas décadas seguintes. O Japão precisava de uma média de apenas quatro anos para construir um reator antes de Fukushima, mas o país não construiu uma única unidade desde o acidente de 2011.

Países como a França e a Suécia ainda dependem fortemente de energia nuclear e, na ausência de questões de segurança, grande parte de sua população continua favorável à tecnologia. Os defensores da indústria apontam para o fato de que a energia nuclear contribuiu com uma enorme capacidade de geração de baixas emissões para as redes de eletricidade durante os booms dos anos 1970. Na luta contra as mudanças climáticas, eles argumentam que a energia nuclear poderia ter um impacto maior do que a energia solar ou a eólica.

Essa visão é apoiada pelo relatório da AIE, que sugere que um aumento de 80% na geração nuclear seja necessário até 2040, se o mundo quiser evitar uma catástrofe climática descontrolada. A agência propõe que as entidades reguladoras da energia nuclear reconsiderem se reatores antigos precisam ser desligados, ou se eles ainda podem ser operados com segurança além da sua vida útil prevista. "Extensões da vida útil de usinas nucleares são cruciais para que a transição energética volte ao caminho certo", segundo o relatório.

Matriz nuclear no mundo

Atualmente, a maior parte do crescimento nuclear ocorre na Ásia, onde os construtores e engenheiros chineses precisaram de apenas 6 anos e meio para conectar cada um dos seus 37 novos reatores à rede elétrica desde 2001. A parte da indústria nuclear que mais cresce, em partes da Europa e os EUA, usa a desativação e a demolição de antigos reatores. Os governos poderiam dar o pontapé inicial em novos investimentos nucleares, oferecendo garantias de longo prazo a preços de energia, estabelecendo tarifas adequadas para emissões de carbono, e oferecendo garantias de crédito e nacionalização, de acordo com a AIE.

"Está cada vez mais claro que a construção de uma nova onda de reatores de larga escala de Geração III em todos os mercados de eletricidade europeus ou norte-americanos é inconcebível sem uma forte intervenção governamental", disse a AIE em seu relatório.

A matriz nuclear existente no mundo continuará a desempenhar um papel importante na geração de eletricidade de baixo carbono, desde que seja considerada segura pelos reguladores. Mas o crescimento futuro do mix de energia será impulsionado pelas tecnologias renováveis eólica e solar, de acordo com a BloombergNEF. Avanços na ciência de materiais, assim como tecnologias digitais amplamente distribuídas estão fragmentando as redes de energia e afastando as redes elétricas de fontes nucleares centralizadas.

"A lição de Chernobyl não é que a energia nuclear moderna é perigosa", escreveu Craig Martin, produtor da série da HBO, no Twitter. "A lição é que mentira, arrogância e supressão de críticas são perigosas – as falhas que levaram [ao desastre de] Chernobyl são as mesmas falhas exibidas pelos negadores da mudança climática hoje".

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