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Violência sem fim

Alauítas, cristãos e drusos massacrados: Síria vive novo pesadelo três meses após queda de Assad

Manifestantes em Istambul, na Turquia, seguram uma faixa com a mensagem “HTS massacra alauítas na Síria, não fiquem parados, não permitam a impunidade”, nesta segunda-feira (10) (Foto: EFE/EPA/ERDEM SAHIN)

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O Ministério da Defesa do governo interino da Síria anunciou nesta segunda-feira (10) o fim de todas as operações militares contra grupos leais ao ex-ditador Bashar al-Assad nas províncias costeiras de Latakia e Tartus, após cinco dias de violência e execuções sumárias de civis que, segundo uma ONG, deixaram mais de 1,3 mil mortos.

Trata-se da maior explosão de violência desde que forças sunitas de oposição a Assad entraram em Damasco e forçaram a fuga do ditador para a Rússia, em dezembro do ano passado.

O Observatório Sírio para os Direitos Humanos, uma organização com sede no Reino Unido, mas com uma ampla rede de colaboradores no país árabe, afirmou que durante confrontos entre as forças do governo interino e as leais ao ex-ditador, que tiveram início na semana passada, as forças sírias e grupos aliados executaram “a sangue frio” mais de 970 civis da minoria alauíta.

Os alauítas são um ramo do islamismo xiita professado por Assad e sua família, e a ofensiva contra esses civis seria uma retaliação devido às atrocidades cometidas pelo regime do ex-ditador. Também foram registradas execuções de drusos e cristãos na atual onda de violência na Síria.

Testemunhas oculares e vídeos verificados pela CNN confirmaram que homens armados ligados ao novo regime realizaram execuções enquanto falavam em “purificar” o país.

Segundo a Unicef, ao menos 13 crianças teriam sido mortas, entre elas, um bebê de seis meses.

O governador da província libanesa de Akkar, Imad Labaki, disse à agência de notícias libanesa ANN nesta segunda-feira que mais de 6 mil pessoas fugiram da Síria, a maioria delas alauítas, para o norte do Líbano nos últimos dias.

A explosão de violência reabriu as feridas da guerra civil síria, que em 14 anos matou mais de 600 mil pessoas e deslocou mais de 13 milhões.

Em um comunicado divulgado no domingo (9), o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, condenou a violência contra as comunidades cristãs, drusas, alauítas e curdas e disse que as autoridades interinas “devem responsabilizar os perpetradores desses massacres contra as comunidades minoritárias da Síria”.

A respeito das acusações de execuções de civis, uma fonte do Ministério do Interior disse à agência estatal Sana na semana passada que “violações individuais” ocorreram na região e que elas não se repetiriam.

Nesta segunda-feira, em entrevista à agência Reuters, o presidente interino da Síria, Ahmed al-Sharaa, disse que os responsáveis pelos massacres serão punidos.

“A Síria é um Estado de Direito. A lei seguirá seu curso para todos”, afirmou. “Lutamos para defender os oprimidos e não aceitaremos que qualquer sangue seja derramado injustamente, ou fique sem punição ou responsabilização, mesmo entre aqueles mais próximos de nós”, disse Sharaa.

Entretanto, o grupo político do presidente interino enfrenta o ceticismo internacional devido ao seu passado.

A Organização para a Libertação do Levante (HTS, na sigla em árabe), coalizão rebelde que tomou Damasco, já administrava desde 2017 a província de Idlib, no norte da Síria, e relatos apontam que as promessas atuais de Sharaa de respeito a minorias religiosas e mais liberdade em todo o país estiveram distantes da realidade na região.

Outro complicador é que, mesmo que o novo líder da Síria tenha realmente a meta de respeitar grupos religiosos minoritários, a violência dos últimos dias mostrou que forças aliadas que operam no país, especialmente as mais radicais, não são obedientes a Sharaa.

“Ameaçado de perder o controle dos redutos alauítas no centro e oeste do país sob ataques de apoiadores do presidente deposto, Sharaa caiu na armadilha deles”, afirmou em artigo Hélène Sallon, correspondente em Damasco do jornal francês Le Monde.

“Ele não conseguiu manter o controle das facções islâmicas radicais aliadas a ele e dos apoiadores sunitas que responderam ao seu chamado para mobilização geral, devido à falta de efetivo suficiente nas tropas disciplinadas que responderam a ele”, alertou a jornalista.

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