PORTO PRÍNCIPE - Os haitianos votam nesta terça-feira para presidente e por uma nova chance à democracia, embora muitos temam que gangues armadas possam prejudicar a eleição. Grandes filas estão se formando em Porto Príncipe, a capital haitiana, e Gonaives, cidade que registrou pesados conflitos na última onda de violência que varreu o país caribenho. Os 3,5 milhões de eleitores cadastrados vão escolher também 30 senadores e 99 deputados entre 1.300 aspirantes.
- As pessoas estão exaustas com essa instabilidade, com a falta de segurança - disse na segunda-feira a principal autoridade da Organização das Nações Unidas (ONU) que supervisiona o pleito.
Exatamente 20 anos após o regime ditatorial de Jean-Claude "Baby Doc" Duvalier cair, a votação oferece aos eleitores alguma esperança de um fim à série de golpes e instabilidade que atingem o Haiti desde então.
No levante mais recente, ex-aliados e inimigos de longa data levaram o ex-presidente Jean-Bertrand Aristide a fugir do país.
O líder nas pesquisas presidenciais, René Préval, conquistou o apoio dos mais pobres nas favelas e nas áreas rurais, onde seu mentor Aristide tinha mais força.
Préval foi presidente de 1996 a 2001, em uma era de relativa calma no país. Ele é o único líder eleito do Haiti a ter encerrado o mandato e entregue o poder de forma pacífica.
Pela primeira vez, o país realizou pesquisas de opinião este ano. Segundo o jornal britânico "The Guardian", as prévias não são totalmente confiáveis, mas mostram Préval com larga vantagem sob seus adversários, com entre 40% e 60% dos votos. Haverá um segundo turno no dia 19 de março se nenhum dos candidatos obtiver mais de 50% dos votos.
Em entrevista exclusiva ao jornal haitiano "Haiti en Marche", Préval afirmou que o próximo governo será, na melhor das hipóteses, de transição, preparando as instituições do país para um novo Haiti, mais democrático e descentralizado. Préval disse considerar que o Haiti se encontra numa posição privilegiada devido ao engajamento da comunidade internacional na reconstrução do país, citando os Estados Unidos, a União Européia, o Brasil, o Chile, entre outros.
A respeito de críticas de que facilitaria a volta de Aristide caso se torne presidente, Préval respondeu que a constituição haitiana bane o exílio e que cabe ao presidente deposto a decisão de retornar ou não ao país. O candidato afirmou ainda que o problema do Haiti não é político, mas de desemprego, pobreza e miséria. No entanto, ele advertiu que o governo não é capaz de criar o número de empregos necessários, o que seria uma responsabilidade do setor privado.
As eleições haitianas serão vigiladas por centenas de observadores internacionais de entidades como a Organização das Nações Unidas (ONU), a Organização dos Estados Americanos (OEA) e a União Européia.
Em eleições anteriores, o país registrou um grande número de assaltos e assassinatos cometidos em motocicletas, que estarão proibidas de circular. Pela primeira vez, os arquivos de cada sessão serão lacrados depois de contabilizados, para se evitar tentativas de falsificação.



