
Agora é oficial. A sonda americana Voyager 1 se tornou o primeiro artefato humano a deixar o Sistema Solar. E já faz um ano. A demora para o anúncio foi ocasionada pela dificuldade em interpretar os dados da nave, que está viajando há 36 anos rumo ao espaço interestelar.
Agora, num estudo publicado na revista científica americana Science, a Nasa confirma que o veículo não tripulado já não sente mais a influência da radiação solar.
A sonda atingiu um ponto em que a pressão de radiação das estrelas já superou a exercida pelo Sol. "Agora que temos esses novos dados, acreditamos que esse é o salto histórico da humanidade no espaço interestelar", diz Ed Stone, cientista-chefe das sondas Voyager.
"A equipe precisava de tempo para analisar essas observações e tirar conclusões. Mas agora podemos responder à pergunta que estávamos todos fazendo: Já chegamos?. Sim, chegamos."
Viagem
As duas sondas Voyager, 1 e 2, lançadas em 1977, tinham como missão original explorar os quatro planetas gigantes do Sistema Solar. A ideia era aproveitar um raro alinhamento de Júpiter, Saturno, Urano e Netuno para realizar um grande tour.
Gêmeas
A Voyager 1 passou por Júpiter (1979) e Saturno (1980), para depois rumar para fora do sistema. Já sua gêmea, Voyager 2, também passou por Urano (1986) e Netuno (1989), antes de fazer a mesma coisa.
As duas funcionam até agora graças à fonte nuclear de energia. Os dados levam cerca de 16 horas para percorrer a distância até a Terra.
Sem depender de painéis solares, as espaçonaves ainda têm bateria para pelo menos até 2020, quando os instrumentos devem ser desligados e a missão, concluída. Sorte então que a última fronteira do Sistema Solar foi encontrada antes disso.
Controvérsia
Não é a primeira vez que dizem que a Voyager 1 deixou a esfera de influência solar. Diversos pesquisadores começaram a sugerir isso desde o ano passado.
A mais forte afirmação veio de Marc Swisdak, da Universidade de Maryland, e seus colegas. No último dia 15, eles publicaram um estudo no Astrophysical Journal Letters, sugerindo que a saída da Voyager 1 havia acontecido em 2012.
Cientista dedica a vida ao projeto criado pela Nasa
O engenheiro Ed Stone, de 77 anos, dedicou mais de 36 anos de sua vida ao projeto da sonda americana Voyager 1.
Quando a missão começou, ele era um jovem e promissor cientista com duas filhas pequenas. No momento em que a nave estava passando por Saturno, as crianças estavam na faculdade. Agora que o objeto já deixou para trás o Sistema Solar, Stone é um respeitado chefe de missão que já tem netos.
Quando esteve no Brasil para falar em um congresso da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, há cerca de três meses, Stone ainda não podia bater o martelo quanto à posição da Voyager no espaço interestelar. Hoje, ele já adiantou: ainda não pensa em se aposentar.
"Sim, dediquei muito tempo a esse projeto e foi um prazer. Mas a saída do Sistema Solar não significa que não haja mais nada por fazer. Pelo contrário, é a partir daí que teremos dados ainda mais fascinantes", disse ele à reportagem, por telefone.
Quando questionado sobre a confiabilidade dos dados obtidos pelos instrumentos da Voyager 1, construídos na década de 1970, o cientista afirmou que a qualidade do equipamento tem sido checada frequentemente. "Os dados demoram a viajar até a gente, mas eles são extremamente confiáveis", disse Stone.



