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Manifestantes na piscina do palácio do presidente em Colombo, Sri Lanka, 10 de julho de 2022.
Manifestantes na piscina do palácio do presidente em Colombo, Sri Lanka, 10 de julho de 2022.| Foto: EFE/EPA/CHAMILA KARUNARATHNE

O Parlamento do Sri Lanka elegerá um novo presidente interino no próximo dia 20. Por pressão popular, o atual presidente do país, Gotabaya Rajapaksa, e o primeiro-ministro cingalês, Ranil Wickremesinghe, prometeram renunciar na próxima quarta-feira (13). O anúncio foi feito no sábado (09) em resposta às manifestações que se agravaram no último fim de semana, depois de meses de protestos intensos no país.

Manifestantes ainda ocupam a residência e o gabinete de Rajapaksa, além da casa de Wickremesinghe, que foi incendiada. Eles afirmam que só sairão quando o presidente e o primeiro-ministro deixarem o poder.

 Moradores e jornalistas veem destroços na residência privada incendiada do primeiro-ministro, em Colombo, Sri Lanka, 10 de julho de 2022. Foto:  EFE/EPA/CHAMILA KARUNARATHNE
Moradores e jornalistas veem destroços na residência privada incendiada do primeiro-ministro, em Colombo, Sri Lanka, 10 de julho de 2022. Foto: EFE/EPA/CHAMILA KARUNARATHNE

A oposição ao governo incentiva os protestos e teme que o anúncio de demissão tenha sido feito apenas para ganhar tempo na busca de soluções. “O presidente Rajapaksa deve honrar seu compromisso e pedir demissão, se quiser resolver a crise política que impede qualquer progresso na resolução da crise econômica do país”, disse Vijitha Herath, parlamentar do partido National People’s Power [Partido do Poder Popular], em entrevista coletiva.

Crise econômica 

O país vive a pior crise econômica da história do país e, em maio, registrou inflação recorde pelo oitavo mês consecutivo, No mesmo mês, o índice de preços de consumo da capital do país (CCPI, na sigla em inglês) aumentou 39,1% e a inflação dos alimentos atingiu 57,4%.

Desde o começo do ano, há cortes de eletricidade no país, que duram até 13 horas por dia, além de filas de espera nos postos de gasolina. Isso se deve à alta inflação e ao derretimento das reservas internacionais do país, situação que leva também à falta de outros produtos essenciais como medicamentos e comida.

Especialistas apontam o principal erro na gestão da ilha de 22 milhões de habitantes: em abril do ano passado, o governo de Gotabaya Rajapaksa proibiu a importação e o uso de fertilizantes e pesticidas sintéticos e ordenou que a produção nacional seja feita exclusivamente de produtos orgânicos no prazo máximo de 10 anos.

Em entrevista à Gazeta do Povo, a analista de mercado da AgRural, Daniele Siqueira, explicou que “o experimento ambiental reduziu a atividade econômica e criou despesas extras, reforçando problemas econômicos e, de quebra, aumentando a insegurança alimentar”.

A iniciativa reduziu a produção agrícola, obrigando o país a importar alimentos que antes não importava e a reduzir as exportações de produtos agrícolas que até então garantiam a entrada de divisas. O programa foi cancelado em algumas culturas, mas as consequências dele se manifestam na pior crise desde a independência da Grã-Bretanha, em 1948.

Além disso, recentemente o governo aumentou as taxas e impostos em todas as áreas. A iniciativa reforçou as manifestações pedindo a demissão do presidente do Sri Lanka.

 Pessoas esperam para comprar querosene em um posto de gasolina em meio à falta de combustível em Colombo, Sri Lanka, 17 de junho de 2022. Foto:  EFE/EPA/CHAMILA KARUNARATHNE
Pessoas esperam para comprar querosene em um posto de gasolina em meio à falta de combustível em Colombo, Sri Lanka, 17 de junho de 2022. Foto: EFE/EPA/CHAMILA KARUNARATHNE

Crise política  

Com a intensificação dos protestos, Rajapaksa decretou estado de emergência no país, permitindo que militares usassem a força para conter as manifestações. Em entrevista coletiva, a embaixadora americana para o país, Julie Chung, anunciou preocupação em relação ao decreto, afirmando que o Sri Lanka precisa de ações a longo prazo para controlar a crise.

A União Europeia também se pronunciou, opinando que o posicionamento do presidente poderia ser “contraprodutivo”. Sob pressão popular, no dia 9 de maio, o primeiro-ministro cingalês, Mahinda Rajapaksa, também irmão do atual presidente, renunciou ao cargo.

Apesar do anúncio de renúncia do presidente e do primeiro-ministro ser uma resposta positiva aos protestos, está longe de ser uma resolução para a crise política do país.

De acordo com a constituição local, se o presidente e o premiê renunciam, quem assumiria interinamente seria o presidente do Parlamento, Mahinda Yapa Abeywarda, mas os legisladores não concordaram em nomeá-lo. No domingo, políticos se reuniram na tentativa de formar uma coalizão para um governo temporário, mas nenhum acordo foi firmado.

Nesta segunda-feira, Abeywarda fez um comunicado, informando que, após formalizada a renúncia de Rajapaksa, a Câmara receberá as nomeações em 19 de julho, e, no dia seguinte, um novo presidente interino.

O cientista político cingalês Jayadeva Uyangoda acredita que a crise social só se apaziguará com novas eleições definitivas, devido à desconfiança política da população. “O Parlamento precisa refletir a opinião da sociedade”, opina o analista ao jornal Le Monde, alertando também sobre a necessidade do novo governo de fazer uma negociação emergencial com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

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