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Iraquianos das etnias sunita e xiita tomaram as ruas de várias cidades do país nesta sexta-feira, para protestar contra a proposta de Constituição em debate no Parlamento e manifestar apoio a homens que consideram grandes líderes. Os sunitas, que dominavam o país até invasão liderada pelos EUA, homenagearam Saddam Hussein. Os xiitas, que também enfrentam suas divisões internas, manifestaram-se com favor em prol do jovem clérigo radical Moqtada al-Sadr. Até então, a única frente de oposição expressiva à Carta era a dos sunitas, que se opõem ao federalismo previsto no texto, que daria a xiitas e curdos a possibilidade de manter regiões relativamente autônomas.

Milhares de iraquianos, a maioria sunitas, fizeram em Baquba, 65 quilômetros a nordeste de Bagdá, saíram em passeata para reverenciar Saddam Hussein - sunita como eles. Foi mais um sinal da crescente frustração desse grupo com seu isolamento político atual. Os manifestantes dançaram e gritaram o nome do ex-ditador, preso à espera de julgamento, e criticaram as propostas do governo curdo-xiita de usar a nova Constituição para instituir o federalismo.

Além disso, acusaram grupos religiosos xiitas do governo de se curvarem ao Irã, o vizinho não-árabe do Iraque onde muitos xiitas se refugiaram durante o regime de Saddam, e aos Estados Unidos, que apóiam o governo e mantêm cerca de 140 mil soldados no país.

- Bush, Bush, ouça bem: nós amamos Saddam Hussein - gritava a multidão.

"Rejeitamos a Constituição americana e iraniana", dizia um cartaz. "Não à Constituição que divide o Iraque", afirmava outro.

Para os sunitas, o sistema federal é o prelúdio de um desmembramento do país, cuja unidade, acreditam, foi mantida especialmente por Saddam e por seu partido Baath.

O clérigo Sadr, porém, voltou aos holofotes nesta semana, ao se unir à oposição sunita ao sistema de federação. Além disso, milicianos leais a ele entraram em choque com a organização Badr, uma milícia rival, insuflando temores de uma nova frente de batalha no ciclo interminável de violência no Iraque.

Em oito cidades, cem mil iraquianos marcharam para manifestar apoio a Sadr, que liderou dois levantes contra as tropas americanas no passado. Seus simpatizantes, também protestaram contra a carência de serviços de infra-estrutura, elevando a pressão sobre o governo - que é liderado pelos xiitas.

Em Bagdá, 30 mil pessoas reuniram-se para ouvir um sermão dado em nome de Sadr, num distrito pobre de Bagdá. Não muito longe deles, um enorme pôster do governo pedia: "uma nação, um povo, uma Constituição". Os manifestantes não deram atenção.

Ele tem incentivado seus seguidores num período crítico para a política italiana, em que os partidos, profundamente divididos, perderam uma série de prazos para chegar a um consenso em torno da Constituição - que será sujeita a um plebiscito em outubro.

- Fora Bush e a América - gritou o clérigo Abdel-Zahra al-Suwaidid, lendo um comunicado em nome de Sadr, no meio da favela conhecida como Cidade de Sadr, que recebeu esse nome em homenagem ao pai do jovem clérigo, religioso assassinado por agentes de Saddam Hussein.

Outra queixa geral estava escrita em vários cartazes: "Queremos água, queremos eletricidade".

Moqtada al-Sadr tem multiplicado seguidores, apresentando-se como um defensor dos pobres. A popularidade do jovem clérigo dá a ele capacidade de mobilizar rapidamente seus milicianos, caso irrompa um confronto com o movimento Badr.

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