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Rússia

Tanques, tortas e flores na resistência ao golpe soviético de 91

Golpe entrou em colapso dois dias depois, resistência foi liderada por Boris Ieltsin

Milena Orlova não pensou duas vezes quando ouviu falar sobre o golpe, 20 anos atrás, que ameaçava um retorno ao regime comunista linha-dura da União Soviética.

Ela rapidamente pegou o trem para Moscou, de sua casa fora da cidade, e se juntou a outros manifestantes que haviam se reunido ao redor do Parlamento russo para defendê-lo.

"Quando escutamos sobre o golpe, meu pai me disse para não ir ali sob nenhuma circunstância. Mas assim que pude eu escapei e me juntei aos protestos", disse Orlova, que tinha na época 23 anos e era estudante de história da arte.

"Não pensei no perigo. Eu era jovem e tola. Uma revolução estava em andamento e eu queria ser parte dela".

Do anúncio do golpe em 19 de agosto até o seu colapso dois dias depois, os moscovitas se aglomeraram em redor do prédio da Casa Branca, que então abrigava o Parlamento da Rússia, desafiando tanques e as forças de segurança soviéticas.

A resistência, liderada pelo presidente russo Boris Ieltsin, foi vital para derrotar os golpistas e evitar que eles revogassem as reformas que já haviam provocado enormes mudanças sob o líder soviético Mikhail Gorbachev.

"Havia todo tipo de rumores, sugestões de que os tanques estavam a caminho, mas nós todos apenas demos as mãos quando escutamos isso", disse Orlova, que hoje é crítica de arte.

"Nós resistimos porque achamos que essa era a última esperança que tínhamos. Nenhum de nós queria voltar ao estilo de vida soviético".

Atmosfera festiva

Os manifestantes incluíam pessoas de todas as classes sociais, jovens e velhos. Orlova deu seu quinhão pela causa copiando folhetos que davam aos manifestantes as últimas notícias do golpe, durante o qual Gorbachev foi mantido preso em sua casa na Crimeia.

Os simpatizantes forneceram alimentos. Alguns trouxeram hambúrgueres, mulheres idosas levavam tortas e uma floricultura enviou cravos vermelhos. Músicos vieram e tocaram para a multidão, disse Orlova.

Três homens foram mortos durante os distúrbios em Moscou, e padres foram ao local para abençoar os manifestantes que temiam ser mortos, mas Orlova recorda-se sobretudo na atmosfera festiva.

Ela se lembra de Ieltsin, que subiu em um tanque em frente à Casa Branca para apelar ao Exército que não se voltasse contra a multidão.

"Ele foi tão comovente, essa figura corpulenta, de cabelos brancos, que estava tão determinada, empurrando os guarda-costas para fora de seu caminho para que ele pudesse falar com as pessoas", disse ela.

Orlova lembra de um sentimento de euforia quando ficou claro que o putsch havia fracassado, um sentimento de que uma vida nova estava se abrindo para ela e que a Rússia tinha um novo começo.

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