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Cartaz com as cotações do peso argentino em uma loja em Buenos Aires, Argentina, em 26 de abril de 2023.
Cartaz com as cotações do peso argentino em uma loja em Buenos Aires, Argentina, em 26 de abril de 2023.| Foto: Juan Ignacio Roncoroni/EFE

Ansiedade, falta de constância nos preços e de produtos nas lojas se generalizaram na Argentina entre uma população acostumada a acompanhar a cotação do chamado "dólar blue" — geralmente o mais barato para a compra e venda da moeda americana , mas que passou a lidar com o aumento dos tipos de câmbio paralelo por causa das severas restrições aplicadas pelo governo para negociações com o oficial.

O aumento do preço da moeda americana é monitorado minuto a minuto em portais de internet e redes de televisão, em um país acostumado a usar o dólar como termômetro de crises econômicas.

"Nos momentos de alta e baixa do dólar blue, algumas lojas pararam de vender porque não conseguiam estabelecer um preço, já que os tecidos são todos importados. As lojas de jeans mudaram de preço três vezes em duas horas na terça-feira”, disse Cecilia Weingardt, funcionária de uma importadora têxtil que vende tecidos no atacado.

O aumento imediato dos preços, ou mesmo a ausência deles em cardápios de restaurantes e em gôndolas dos supermercados — para que não tenham que ser alterados várias vezes por dia — estão se tornando situações comuns. Por exemplo, nesta terça-feira (25), María José Boga comprou um fogão pela internet e contou à reportagem que, no período em que levou para concluir o processo de aquisição, "o preço aumentou em 3 mil pesos", chegando a quase 53 mil pesos, o equivalente a US$ 241 (R$ 1.218) no câmbio oficial ou US$ 113 (R$ 571) no paralelo.

O dólar blue chegou a 500 pesos na terça-feira, na segunda semana de tensão cambial desencadeada por uma inflação maior do que a esperada (104,3% no período de um ano em março), quando já reinava a escassez de moeda estrangeira e as reservas internacionais líquidas chegaram a níveis mínimos.

Seca

A crise argentina também é aprofundada por uma seca histórica, que reduziu as exportações agrícolas em cerca de US$ 20 bilhões (R$ 101 bilhões), junto com um déficit fiscal com emissão de moeda, em uma economia que demanda pouca moeda local.

Aqueles que comercializam produtos que não são gêneros de primeira necessidade percebem como as vendas estão paradas. "As pessoas dizem que está muito caro", afirmou Belén Lizzi, que vende velas perfumadas.

Disparada

A alta nos tipos de câmbio paralelo está alimentando as expectativas de um salto no câmbio oficial, apesar de o Banco Central ter acelerado a desvalorização diária, cotando o dólar em 221,54 pesos por unidade para a venda, uma diferença de 106% em relação aos chamados dólares financeiros.

A decisão do ministro da Economia, Sergio Massa, na terça-feira, de usar "todas as ferramentas" para resolver a situação da taxa de câmbio deu frutos nesta quarta-feira (26), já que o chamado dólar contado com liquidação (CCL, que consiste em comprar localmente, com pesos argentinos, ações ou títulos e vendê-los em dólares em Wall Street) chegou a cair 2%.

Fragilidade política

A fragilidade econômica tem um componente político, pois o peronismo no poder tem diferenças internas e governa com a única visão comum de chegar sem sobressaltos às eleições primárias em agosto próximo e às eleições presidenciais em outubro.

O presidente da Argentina, Alberto Fernández, anunciou na última sexta-feira, 21 de abril, que não vai se candidatar à reeleição e, bastante enfraquecido, atribui esse aumento do dólar nos últimos dias a especulações da "oposição de direita".

Negociações com o FMI

O ministro da Economia da Argentina estava negociando concessões com o Fundo Monetário Internacional (FMI), com o qual o país acertou um programa para refinanciar uma dívida de US$ 45 bilhões (R$ 227 bilhões). Massa notificou o FMI sobre sua decisão de intervir nos mercados paralelos de câmbio, já que isso implica em não cumprir as "restrições" impostas à Argentina, as quais exigem que o Banco Central evite tais intervenções, o que ele disse planejar "mudar na rediscussão do programa”.

A equipe econômica viajará a Washington nesta semana para negociar com o FMI, já que a Argentina pretende receber a parcela trimestral [de empréstimo], apesar de o país não ter cumprido as metas de reservas líquidas e de déficit fiscal para o primeiro trimestre, enquanto busca acesso a mais moeda estrangeira.

Apesar da disposição do FMI de trabalhar "de forma construtiva" com a Argentina, a gestão da economia do país pelo governo continuará questionada até as eleições presidenciais de outubro, o que aumenta a habitual procura por proteção monetária em anos eleitorais. Além disso, as propostas de candidatos da oposição de dolarizar a economia ou acabar rapidamente com as restrições de negociação no mercado oficial de câmbio estão alimentando ainda mais a compra de dólares e a incerteza sobre os rumos do câmbio.

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