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Perfil social

Três realidades de um país em transformação

Famílias venezuelanas falam do seu dia a dia e das expectativas diante das mudanças políticas e sociais

O casal José Gregório e Diana com seus dois filhos: sonho de mudar de vida | Fotos: Célio Martins/Gazeta do Povo
O casal José Gregório e Diana com seus dois filhos: sonho de mudar de vida (Foto: Fotos: Célio Martins/Gazeta do Povo)
Khöan Molina, Jessica e o filho do casal: dura vida de classe média baixa |

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Khöan Molina, Jessica e o filho do casal: dura vida de classe média baixa

Digna com Hector Rosales, coordenador do bairro: dependência do governo |

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Digna com Hector Rosales, coordenador do bairro: dependência do governo

Khöan Molina passeia domingo à tarde com a esposa, Jessica Cas­tro, e o filho de 16 meses em La Floresta, um dos bairros chiques da Grande Caracas. Formado em Eco­­nomia e funcionário do governo, o jovem pai, de 31 anos, sonha com o momento em que Jessica receberá o diploma em Educação. Assim a família poderá aumentar a renda e dar um salto na qualidade de vida.José Gregório, sua mulher, Dia­­na Marcela, e os dois filhos, uma menina de 6 anos e um me­­nino de 8 meses, usam o sistema de teleféricos instalado pelo go­­verno no bairro San Augustín para ir ao centro da cidade. Funcionário de uma empresa de montagem de toldos, ele aguarda um aumento de salário para equipar melhor a casa onde mora.

Digna Villaroel, há 15 anos mo­­rando na favela Caboya, está desempregada e fica à espera da ajuda do governo para poder se alimentar. Separada, faz bicos pa­­ra ter uma renda. Com um fi­­lho já criado, de 24 anos, ela se preocupa com o mais novo, de 16 anos.

Essas três famílias mostram parte do extrato social da Vene­­zuela da era Chávez. São retratos fiéis dos contrastes de um país que, depois de um passado recente rico, mergulhou numa profunda crise e hoje passa por uma revolução, com antagonismos em todos os setores.

O economista Molina se define como membro da classe média baixa. "Tenho de trabalhar para pagar o aluguel do apartamento, a prestação do carro e abastecer a casa", diz. "Estou ansiosa para defender a tese e pegar o diploma. Assim poderei trabalhar", complementa Jessica, que pretende dar aula.

O jovem casal lamenta não ter sobras para o lazer. "Dificilmente podemos ir à praia", conta Molina. "Férias na Isla Margarita nem sonhar, pelo menos por ora."

Molina e Jessica têm elogios e críticas ao governo. "O país me­­lhorou em alguma coisa e piorou em outras. A saúde e a educação estão melhores. Mas a segurança está pior", resume, sem revelar suas preferências políticas.

O montador de toldos José Gre­­gório, 26 anos, tem uma frase pa­­recida com a de Molina. "Se eu não trabalho não como", protesta. E diz que não espera ajuda do governo. Ele e Diana Marcela, a esposa, não estavam dispostos a votar nas eleições legislativas de domingo passado. "Eu nunca votei", diz a moça, que trabalha no comércio. Na Venezuela, o voto não é obrigatório.

A recusa em exercer um direito de cidadania, entretanto, não é um ato de protesto contra o governo. Gre­­gório diz que se sente bem com Chávez e não quer que ele saia da Presidência. "Temos muitos be­­nefícios. Nossa filha está em escola integral, ganha alimentação e material escolar", acrescenta.

Mais dura é a realidade de Dig­­na. Eleitora fiel do chavismo, ela conta que, graças à ajuda dos professores de Educação Física cubanos, o filho adolescente está encaminhado para os esportes. Um grupo de técnicos de Cuba trabalha na missão socialista do bairro.

"Antes não podíamos sair por aí. Os jovens estavam metidos com droga, delinquência. Hoje melhorou muito."

Nos momentos difíceis Digna recorre a amigos e a Hector Rosa­­les, coordenador desportivo da comuna. Hector percorre diariamente os becos da favela acompanhando o dia a dia da comunidade. "Não tenho intenção de ir em­­bora daqui. Vou ajudar a melhorar nosso bairro", sentencia.

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