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Bairros inteiros de Palu, na Indonésia, conseguiram escapar dos impactos do forte terremoto que atingiu no dia 28, mas não resistiram à liquefação, o súbito amolecimento do solo | ADAM DEAN/NYT
Bairros inteiros de Palu, na Indonésia, conseguiram escapar dos impactos do forte terremoto que atingiu no dia 28, mas não resistiram à liquefação, o súbito amolecimento do solo| Foto: ADAM DEAN/NYT

Sobrevivente do terremoto e do tsunami que devastaram a cidade de Palu, Munif Umayar empreendeu uma trabalhosa busca por sua casa entre as ruínas do bairro de Balaroa. Depois de uma longa procura e de uma escavação difícil, ele finalmente a encontrou – a pelo menos 135 metros de onde achava que morava.

 Esse foi o poder do terremoto, que transformou o solo em uma substância mole que, depois de uma agitação mortal, erradicou os marcos históricos e derrubou prédios, que eram sugados para baixo e transformados em escombros.  "Tive que cavar muito para saber que era minha casa", afirmou Munif, comerciante de 50 anos. "Quando a encontrei, coloquei uma bandeira nela, como um sinal." Ele teme que seu irmão esteja preso lá dentro. 

 Bairro de habitações de classe média de Palu, Balaroa se tornou o centro dos piores danos do terremoto que atingiu a Indonésia. No desastre que matou gente com água e terra em um trecho mais amplo da Ilha de Sulawesi, Balaroa não sofreu quase nenhum dano por causa do tsunami que se seguiu. 

 O bairro, no entanto, foi devastado quando o terremoto causou um fenômeno conhecido como liquefação, que minou e destruiu pelo menos 1.747 casas apenas no bairro. Balaroa é agora um vasto deserto de escombros. Telhados são tudo o que restou de muitas casas. O minarete de uma mesquita, inclinado precariamente para um dos lados, é uma das poucas estruturas que permanece em pé. 

 Do outro lado de Palu e em regiões vizinhas, muita gente ainda está desaparecida. 

 Um número incontável de pessoas foi levado pelo tsunami, especialmente pela terceira e última onda, que tinha mais de seis metros de altura em alguns lugares. E muitos corpos ainda estão soterrados sob os escombros em lugares como Balaroa. O terremoto ocorreu às seis da tarde, hora em que muitos estavam em casa. 

 No bairro devastado, os prédios demolidos estão cobertos por camadas de telhados de ferro corrugado. Estacas pontiagudas e postes elétricos caídos se projetam para fora. Carros e outros veículos ficaram presos em ângulos improváveis, vários sem tampas de combustível – provavelmente obra de pessoas que retiraram sua gasolina. 

 A aldeia de Petobo, que como Balaroa foi construída em solo macio em uma área baixa, também acabou sendo destruída pela liquefação. Ali, pelo menos 744 casas desabaram. Uma equipe da Cruz Vermelha da Indonésia que conseguiu chegar a Petobo informou que a vila de 500 pessoas tinha sido devastada. 

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"Os funcionários da Cruz Vermelha estão abrindo caminho através de destroços e estradas danificadas para alcançar novas áreas e tentar ajudar os sobreviventes, e estão encontrando devastação e tragédia em todos os lugares", disse Iris van Deinse da Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho. "Quando chegamos a Petobo, descobrimos que tinha sido varrida do mapa." 

 Ao todo, 4.413 construções teriam caído em Palu e 773 na cidade vizinha de Donggala, disse Sutopo Purwo Nugroho, porta-voz da agência de gestão de desastres da Indonésia. 

 Na periferia de Palu, ao longo da estrada principal através do distrito de Donggala, casas proximas ao mar foram destruídas pelo tsunami e as que ficavam no interior, pelo terremoto. 

 Alguns moradores permaneciam sentados em frente aos restos de suas casas enquanto as cabras vagavam por perto. Outros pediam doações ao longo da estrada, entre eles uma mulher vestindo um hijab, carregando seu filho pequeno em um braço e uma caixa com macarrão instantâneo e água potável no outro. 

Os moradores reclamaram que a ajuda não estava sendo distribuída de maneira justa, com grande parte dela indo para Palu e não para as áreas periféricas. 

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No subdistrito de Baladonda, ao sul de Donggala, alguns jovens buscaram de maneira agressiva conseguir "doações" dos motoristas que passavam. Um motorista entregou uma caixa de macarrão instantâneo. O seguinte jogou uma caixa de água potável. Outros passaram depois de doar dinheiro. 

De volta a Balaroa, Munif e outros sobreviventes que voltaram para avaliar suas perdas encontraram o bairro irreconhecível. Muitos estavam procurando por parentes desaparecidos. Munif temia que seu irmão tivesse ficado preso na casa quando o terremoto aconteceu. Tristes e nervosos, os amigos se abraçavam e tentavam emprestar uns aos outros a força para continuar. 

 Hardrah, de 44 anos, veio procurar os documentos da formatura do filho, mas encontrou apenas ruínas. Ela conseguiu achar sua casa, mas tudo o que havia permanecido de pé era uma única parede. Ela contou que estava em casa quando o terremoto aconteceu e realmente não sabe como conseguiu fugir sem se machucar.  "Quando acabou, eu só vi as ruínas e as casas caídas no chão. Ainda estou assustada", disse ela. 

 

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