Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Esquerda x direita

Trump está de olho: as eleições de 2026 na América do Sul

Lula em encontro com Trump em Kuala Lumpur, na Malásia, no final de outubro (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

Ouça este conteúdo

Com a América do Sul dividida atualmente entre seis governos de esquerda (Brasil, Venezuela, Colômbia, Guiana, Suriname e Uruguai) e seis de direita (Argentina, Paraguai, Equador, Bolívia, Peru e Chile – este, já contando a posse do eleito José Antonio Kast em março), três eleições presidenciais no subcontinente poderão desempatar essa disputa em 2026.

A primeira será no Peru, em abril; depois, haverá eleições presidenciais na Colômbia, em maio, e no Brasil, em outubro.

Com a nova doutrina de segurança nacional dos Estados Unidos enfatizando priorizar a América Latina, espera-se que o presidente Donald Trump dedique grande atenção a essas disputas.

No primeiro ano do seu segundo mandato, o republicano entrou em conflito com os governos de esquerda do Brasil e da Colômbia.

No país andino, o presidente Gustavo Petro não poderá tentar a reeleição, já que a lei local não permite mandatos presidenciais consecutivos. O senador Iván Cepeda será o candidato do partido de Petro, o Pacto Histórico, e deverá ter como principal adversária a também senadora Paloma Valencia, escolhida no último dia 15 como a presidenciável do Centro Democrático, legenda do ex-presidente Álvaro Uribe (2002-2010).

Em outubro, Petro, sua esposa, Veronica del Socorro Alcocer Garcia, o filho mais velho dele e um ministro do seu governo se tornaram alvos de sanções econômicas do governo Trump, sob a justificativa de que o mandatário esquerdista permitiu que cartéis de drogas “florescessem” na Colômbia durante seu mandato.

Antes, em setembro, o Departamento de Estado americano já havia cancelado o visto do presidente colombiano, após ele participar de um protesto pró-Palestina em Nova York no qual “instou os soldados americanos a desobedecerem a ordens e incitarem à violência”.

Trump também chamou Petro de “traficante” e disse que, após o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro – que, segundo ele, está com os dias “contados” –, o mandatário da Colômbia “será o próximo” alvo das ações americanas contra o narcotráfico na América Latina.

O presidente americano também retirou a ajuda à Colômbia e projeta-se que tentará exercer influência contra Cepeda na eleição de 2026.

Quanto ao Brasil, onde Luiz Inácio Lula da Silva tentará o quarto mandato, Trump chamou o petista de “lunático de esquerda radical” em 2022 e pediu votos no aliado Jair Bolsonaro (PL), que indicou seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), para disputar a presidência em 2026.

Em 2025, Trump aplicou um tarifaço de 50% sobre importações do Brasil, a maior parte baseada numa declaração de emergência na qual alegou que “políticas, práticas e ações recentes do governo do Brasil ameaçam a segurança nacional, a política externa e a economia dos Estados Unidos” e citou o julgamento de Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF).

Porém, depois disso, veio o encontro inesperado com Lula na Assembleia Geral da ONU, em Nova York, em setembro, quando os dois presidentes manifestaram terem sentido uma “química”, e ambos começaram a conversar diretamente – uma delas pessoalmente, na Malásia, em outubro.

VEJA TAMBÉM:

Em novembro, Trump retirou as tarifas de 50% sobre carnes, café e outros produtos agrícolas do Brasil, para reduzir preços nos Estados Unidos.

Porém, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, disse que 22% das exportações brasileiras ao país norte-americano ainda estão sujeitas ao tarifaço.

O governo dos EUA citou a aprovação do PL da dosimetria no Congresso, que poderá beneficiar Bolsonaro, como uma das justificativas para retirar os nomes do ministro do STF Alexandre de Moraes, do Instituto Lex de Estudos Jurídicos e de Viviane Barci de Moraes, esposa do juiz e diretora do instituto, da sua lista de alvos de sanções econômicas via Lei Magnitsky.

Como Lula planeja vetar o PL, não se sabe se a “química” com Trump será comprometida.

O Peru realizará eleição presidencial em 2026 para encerrar outro ciclo político complicado: dois presidentes, Pedro Castillo e Dina Boluarte, sofreram impeachment desde o pleito anterior, em 2021, e a presidência agora é ocupada pelo conservador José Jerí, que era líder do Congresso do país.

Entre os candidatos mais conhecidos para a eleição de 2026, estão um ex-prefeito de Lima, o conservador Rafael López Aliaga, e Keiko Fujimori, filha do ex-presidente Alberto Fujimori (1990-2000) e que tentará pela quarta vez se tornar presidente (foi derrotada em 2011, 2016 e 2021).

Uma amostra de como Trump tratará essas eleições veio em 2025, quando ameaçou cortar a ajuda à Argentina e a Honduras, caso o partido de Javier Milei (presidente que recebeu um auxílio bilionário de Washington para estabilizar o dólar) não vencesse as eleições legislativas de outubro e se Nasry “Tito” Asfura, do conservador Partido Nacional, não saísse vencedor no pleito presidencial de novembro no país centro-americano. Nas duas disputas, saiu o resultado desejado pelo republicano.

Em entrevista à Gazeta do Povo, Leo Braga, professor do curso de relações internacionais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio, disse que, sob Trump, os Estados Unidos não estão mais deixando de lado a América Latina.

“O fim da fase de ‘esquecimento’ se dá com a nova postura americana, diga-se, de Trump, agora caracterizada por ser mais assertiva e ideologizada, com atenção aos interesses americanos de segurança, comércio e, de modo contundente, contenção da China”, disse Braga, que afirmou que a América do Sul deixou de ser um espaço periférico para a política externa americana e se converteu em um eixo estratégico.

“Essa nova postura americana foi batizada como ‘Corolário Trump’ na doutrina de segurança nacional dos EUA e retoma em larga medida a Doutrina Monroe, do século XIX, quando busca restaurar a proeminência americana no hemisfério e impedir que potências extra-hemisféricas – como a China e a Rússia – controlem ativos estratégicos aqui na região. Isso evidencia prioridades políticas inequívocas, que impactam no cotidiano da região e a faz novamente espaço geopolítico em disputa”, afirmou o analista, para quem a pressão sobre Petro já indica como Trump deve continuar buscando influenciar eleições latino-americanas.

“É possível prever que as disputas presidenciais de 2026 na região serão altamente internacionalizadas e marcadas por um intervencionismo explícito por parte dos EUA, tal qual já foi manifestado nas eleições legislativas na Argentina de Milei”, disse Braga.

VEJA TAMBÉM:

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.