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“Se eu quiser ele fora, ele estará fora bem rápido”, afirmou Donald Trump na quinta-feira (17), referindo‑se a Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA). Segundo Trump, Powell está “sempre muito atrasado e errado” com relação ao controle das taxas de juros.
Um dia depois, no entanto, o assessor econômico da Casa Branca, Kevin Hassett, foi mais cauteloso. Hassett declarou, nesta sexta-feira (18), que “o presidente e sua equipe continuarão a estudar o assunto”.
A dúvida, agora, é se Donald Trump foi precipitado em sua ameaça ou está usando a demissão como instrumento para pressionar o Fed. E, principalmente, se o chefe do poder Executivo realmente tem poder para afastar o presidente do banco central.
Jerome Powell, eleitor registrado do Partido Republicano, foi conduzido ao principal cargo do Federal Reserve em 2017, pelo próprio Trump. Em 2022, Joe Biden o indicou para um novo período à frente da instituição — que, de acordo com as regras, ele deveria comandar até 2026.
“Justa causa”
Em 1913, uma lei entrou em vigor nos EUA justamente para proteger os presidentes do Fed contra demissões com motivações políticas.
Segundo o decreto, o comandante do banco central só pode ser demitido por “justa causa” (má conduta, negligência e incapacidade). Divergências sobre a política monetária, portanto, não entram nessa categoria.
Para dar o “bilhete azul” a Powell, Trump teria de provar que ele cometeu faltas graves. E isso significaria o início de uma longa batalha judicial, capaz de desgastar o governo e chegar até a Suprema Corte.
Em 1935, o Tribunal limitou ainda mais o desligamento de dirigentes de agências independentes. Mas juízes da ala conservadora já manifestaram sua intenção de rever essa decisão — o que poderia encorajar o governo a entrar na empreitada.
Risco global
Políticos e economistas alertam que uma decisão favorável a Donald Trump comprometeria a histórica credibilidade do Fed e, o mais alarmante, colocaria em risco a estabilidade financeira global.
Afinal, a autonomia monetária do banco central é fundamental na manutenção da confiança dos investidores em um país — mais ainda, na nação mais rica do mundo.
“Até países com ditadores tentam criar um banco central independente do presidente para atrair capital”, disse à imprensa a senadora de oposição Elizabeth Warren, do Partido Democrata.
Fora do campo político, economistas como Nathan Sheets, chefe global do Citigroup, preveem uma longa recessão se o governo realmente demitir Powell. “Vamos começar a minar de forma séria e permanente a confiança na economia e nos mercados”, afirma.






