A retirada dos mais de 2 mil turistas bloqueados em Puerto Natales, no Chile, por causa de protestos locais incluindo um grupo de cerca de cem brasileiros começou ontem. Três voos em aviões do Exército chileno levaram os primeiros idosos, gestantes, pais com crianças pequenas e pessoas com problemas de saúde até o aeroporto de Punta Arenas, a cerca de 250 km, de onde poderão seguir em voos comerciais com destino a Santiago ou El Calafate, na Argentina. O resgate, porém, foi interrompido por causa da falta de combustível para abastecer as aeronaves.
A espera por uma vaga nos voos regionais que partem de Punta Arenas rumo a destinos mais seguros pode durar dias, dada a falta de passagens e a superlotação dos vôos. Houve saques, greve geral e desabastecimento na região de Puerto Natales. Parte dos turistas recorreu a abrigo da Cruz Vermelha para comer e dormir durante a semana.
De acordo com os brasileiros Rita e Maurício Mor, dois dos poucos turistas que puderam seguir para Punta Arenas com a escolta do Exército, além das dificuldades para encontrar um espaço dentro do aeroporto para aguardar um possível chamado para embarque, faltam comida e bebida. A distância do aeroporto ao centro da cidade é de 22 km e não há transporte disponível para quem pretende buscar alimentação e abrigo fora do local. "Mesmo os mais corajosos não conseguiriam seguir a pé. Punta Arenas também está em situação de caos, invadida pela onda de protestos e violências nas ruas", disse Rita, em nota.
Ainda restam cerca de 1.500 turistas no abrigo, que agora aguardam o envio de reforços e mantimentos. Apesar de os protestos continuarem, manifestantes permitiram, no último dia 15, que o governo retirasse os estrangeiros.
Entenda o caso
Desde que a Empresa Nacional de Petróleo (Enap), a estatal chilena, anunciou que o gás natural em Magalhães subiria 16,8%, a comunidade da região se mobilizou para refutar fortemente o aumento, o que implicará em elevação do custo de vida para os habitantes. Os turistas foram impedidos de voltar para casa em razão de piquetes realizados por moradores da região, que bloquearam aeroportos e todas as rodovias após o anúncio do governo.
Os manifestantes estão revoltados com o presidente Sebastián Piñera. Ele havia assegurado em visita à região que o setor residencial de Magalhães seguiria recebendo o benefício de contar com subsídio do governo sobre o preço do gás. "O setor residencial tem um tratamento especial nos preços do gás natural, e esse preço não será alterado. Por essa razão, quero dizer que não há nada a temer", disse o presidente pouco antes do estouro da crise.



