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Tecnologia de guerra

Ucranianos recorrem a redes de pesca para capturar drones russos

Os drones FPV (sigla em inglês para visão de primeira pessoa) ou kamikaze, que representam hoje a principal forma de uso de drones no conflito europeu (Foto: MARIA SENOVILLA/ EFE)

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Na Ucrânia, redes de pesca têm feito um papel de defesa que outras armas mais poderosas e tecnológicas, por vezes, não conseguem: imobilizar drones lançados pela Rússia sobre o país.

De acordo com informações do New York Times, as redes são estendidas em pontos críticos na frente oriental da Ucrânia, sob postos de controle militar e posições de artilharia. "Doadas" por pescadores nórdicos que que não precisam mais delas, as redes são costuradas em cidades distantes da frente de batalha, na tentativa de interceptar drones que invadem os céus do país e atacam qualquer coisa que se mova, como veículos blindados em movimento ou soldados escondidos.

Compostas de malha densa, as redes de pesca se enroscam nas hélices dos drones, imobilizando-os. Embora simples, a ideia alcança a eficácia que outras armas de guerras de última geração não conseguem, já que os drones atingem altas velocidades e costumam voar por trás da linha de frente da guerra, com intuito de driblar rotas de alcance.

Enquanto a Ucrânia vem implementando essa medida simples, a Rússia tem usado cada vez mais drones conectados por cabos de fibra óptica, substituindo os que dependem de sinais eletrônicos. Os cabos fazem com que o drone seja imune à interferência - um dos métodos de defesa usados no campo de batalha contra as armas voadoras.

Sem a possibilidade da interferência, as redes de pesca se tornaram uma das poucas maneiras restantes de capturar drones do inimigo russo.

“Engenheiros militares notaram que até mesmo uma rede de pesca comum poderia parar ou danificar um drone inimigo”, afirmou Tenente-Coronel Maksym Kravchuk, chefe de comunicações das forças de engenharia do Exército Ucraniano, à mídia ucraniana recentemente. Ele acrescentou que as redes estavam sendo instaladas “ao longo de toda a linha de frente, de leste a sul".

Instrumentos simples de defesa contra armas de última geração

Federico Borsari, especialista em guerra tecnológica do Centro de Análise de Políticas Europeias, lembra ao Times que primeira a usar redes dessa forma foi a Rússia, em uma escala mais limitada, em 2023. Na época, a medida foi adotada por Moscou para combater pequenos quadricópteros de ataque.

Ano passado, a agência de notícias estatal russa Tass noticiou que o exército russo começou a instalar redes de pesca em estradas do nordeste ocupado da Ucrânia. O New York Times verificou também a presença dessas redes na cidade de Bakhmut, uma cidade capturada pelos russos 2023.

Agora, os ucranianos planejam cobrir estradas importantes ao longo de toda a linha de frente com redes, criando o que os soldados apelidam de “corredores de rede” que oferecem aos veículos uma passagem mais segura.

O projeto está transformando gradualmente a paisagem da linha de frente na Ucrânia. Estradas que antes eram ladeadas por trincheiras e arame farpado agora também estão cobertas por telas estendidas entre cabos presos a postes. Passar por elas dá a sensação de atravessar um túnel semitransparente.

Além disso, veículos militares estão sendo equipados com as redes, criando, literalmente, uma "camada de proteção", como se estivesse dentro de uma gaiola. A proteção faz com que o drone exploda a poucos metros do veículo, minimizando danos.

Mistura do antigo e do novo

As medidas evidencia uma característica desta guerra que já dura mais de três anos: meios simples de defesa estão se opondo à armas de guerra de última geração.

Outros exemplos que vão além da rede de pesca, são metralhadoras da Segunda Guerra Mundial também usadas para abater drones inimigos, e tesouras, usadas para cortar cabos de fibra óptica que pudessem estar conectados a drones. Um funcionário da Câmara Municipal de Kherson, cidade da linha de frente, que pediu aos moradores da cidade que usassem essa estratégia.

“A invasão russa da Ucrânia, do ponto de vista militar, é um exemplo claro de uma mistura do antigo e do novo”, afirmou Borsari em entrevista ao Times.

Os corredores de rede de pesca já começaram a ser implementados pelas forças ucranianas em Sumy, região no nordeste parcialmente invadida pelas forças russas, e na região de Donetsk, no leste.

À medida que os russos avançam com os drones, eles alvejam a principal estrada de acesso que leva à cidade de Kostiantynivka, no leste, que está cercada.

Para protegê-la, os militares cavaram buracos ao longo da estrada para instalar postes, desenrolaram grandes rolos de rede fina e, em seguida, içaram-nas sobre esses postes, com o objetivo de formar um longo corredor de proteção sobre a via considerada estratégica.

Kiev agora recorre a instituições de caridade para garantir mais redes, pois ainda faltam centenas de quilômetros de estrada para cobrir.

Ludvig Ramestam, fundador da organização sem fins lucrativos sueca OperationChange, disse que ao New York Times que a ONG já forneceu 250 toneladas métricas de redes ao país apenas neste ano.

Ele afirma que compra as redes de países nórdicos vizinhos com grandes indústrias pesqueiras, como a Dinamarca.

“Damos uma segunda vida a essas redes”, afirmou Ramestam, brincando que sua organização iria “esvaziar os portos”.

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