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Vaticano

Um Papa sem meias palavras

Bento XVI completa quatro anos de papado. O período foi marcado por um direcionamento conservador, voltado a garantir uma “verdadeira” identidade católica |
Bento XVI completa quatro anos de papado. O período foi marcado por um direcionamento conservador, voltado a garantir uma “verdadeira” identidade católica (Foto: )

Durante a missa de abertura do último conclave, em 18 abril de 2005, o então cardeal alemão Joseph Ratzinger fez um discurso que ficaria famoso, atacando o relativismo e o secularismo dos tempos modernos. "Estamos avançando para uma ditadura de relativismo que não reconhece nada como certo e que tem como objetivo central o próprio ego e os próprios desejos", disse ele.

Para alguns, de tão vigoroso, o texto era um sinal de que o alemão não seria eleito Papa. No dia seguinte, quando a fumaça branca saiu pela chaminé da Capela Sistina, ficou claro que Ratzinger havia recebido a aprovação pela homilia do dia anterior. Hoje, quando seu papado completa quatro anos, o texto da véspera da posse parece uma premonição de como Bento XVI planejava guiar 1,1 bilhão de católicos em todo o mundo.

Seu papado tem sido marcado por um direcionamento de linha bastante conservadora, preocupado em garantir uma "verdadeira" identidade católica. Para isso, ele vem tentando reconciliar duas alas da Igreja que divergiram após o estabelecimento do Concílio Vaticano II: os tradicionalistas e os progressistas.

Convocado em 1961 pelo Papa João Paulo XXIII, o Concílio Vaticano II propunha abrir a Igreja Católica para o mundo moderno. Mas diferentes interpretações apareceram dos documentos que resultaram do encontro.

Abertura

Num primeiro período, de cerca de 20 anos, até o início do Pontificado de João Paulo II, em 1978, prevaleceu a ideia de um novo rumo para a Igreja, com revisões de questões relacionadas à vida religiosa, à liturgia e ao ecumenismo. Passou-se a ter mais liberdade na forma de celebração das missas e abriu-se o diálogo com outras religiões.

"Essa interpretação do Concílio – como a Teologia da Libertação – foi muito forte em partes da América Latina e, especialmente, no Brasil. Mas com a eleição de João Paulo II, ganhou força uma outra interpretação do Concílio, que o vê como uma continuidade da tradição. É essa a visão do atual Papa", diz Maria José Fontelas Rosado-Nunes, professora da cadeira de Gênero e Religião da Pós-graduação em Ciências da Religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP).

Doutrina

Ratzinger tornou-se o líder da Igreja Católica depois de 23 anos à frente da Congregação para a Doutrina da Fé, em que era responsável por defender e difundir a doutrina católica. Em grande parte, como ideólogo de seu predecessor, ele foi o responsável pela retomada conservadora do Vaticano. Foi esse cargo de "guardião da fé" que lhe rendeu o apelido "Rottweiller de Deus".

Temendo que o reconhecimento de outras religiões como "verdadeiras" levem a uma indiferença religiosa, Bento XVI promove uma doutrina sem relativismos, tradicional, em busca de uma identidade católica clara.

E aí o motivo de tantas polêmicas de seu papado: a condenação ao uso da camisinha, ao feminismo, ao ato homossexual. "Uma das questões mais características da Igreja Católica é a unidade. Não tem achismo na Igreja. A Igreja usa as fontes da revelação para nos propor as suas verdades. Claro, nem tudo é dogma. São vários graus de verdades. Algumas são dogmas, outras são definitivas, outras são ensinamentos morais. Agora, o critério de verdade não pode ser a opinião de cada um, de um teólogo x. A gente não pode ter relativismo em relação à doutrina do magistério. E neste ponto o Papa Bento XVI tem dado muita ênfase", diz dom Fernando Rifan, bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney, em Campos, no Rio de Janeiro.

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