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Surpresa

União Europeia ganha prêmio Nobel da Paz em meio à crise e incertezas

Comitê destaca contribuição do bloco europeu à pacificação de um continente marcado por guerras

Funcionário ajusta bola de decoração em edifício da Comissão Europeia, em Bruxelas, Bélgica | Valentina Petrova/AFP
Funcionário ajusta bola de decoração em edifício da Comissão Europeia, em Bruxelas, Bélgica (Foto: Valentina Petrova/AFP)

No momento em que seu destino está em xeque diante de uma crise impiedosa e do descontentamento crescente nas ruas, a União Europeia — bloco que reúne 27 países e meio bilhão de pessoas — ganhou ontem o Prêmio Nobel da Paz "por mais de seis décadas de contribuição para o avanço da paz e da reconciliação, da democracia e dos direitos humanos". Foi uma injeção de memória, sobretudo nos jovens europeus desiludidos com o projeto de união, que não percebem que o continente, na desunião, viveu período bem pior: a destruição em duas grandes guerras.

O presidente da comissão do Nobel da Paz e ex-pri­­meiro-ministro norueguês,­­ Thorbjoern Jagland, foi direto na mensagem política: "Esta é uma mensagem à Europa para que faça todo o possível para garantir que o que foi alcançado até agora siga adiante".

Numa entrevista em Oslo, ele alertou para o aumento de atitudes extremistas e nacionalistas e disse que "existe um perigo real de que a Europa comece a se desintegrar".

Cotada para o prêmio há muitos anos, a UE, em pleno turbilhão da crise, desbancou vários favoritos, entre eles o cientista político americano Gene Sharp, além de dissidentes russos e líderes religiosos.

Bruxelas, sede da UE, co­­­­­­­­­­me­­­­­­­­­­­­morou a reparação ao que­ muitos classificam de­­ um­­­­­­ "esquecimento histó­­ri­­co". O­­ pre­­­­sidente do Con­­se­­lho­­­­ Eu­­ropeu, Herman Van Rom­­­­­­puy, disse que a UE é "a ma­­­­ior pacificadora na His­­tó­­­­­­ria".

"Todos estamos muito orgulhosos de os esforços da União Europeia para manter a paz na Europa terem sido recompensados", disse Rompuy. "A Europa atravessou duas guerras civis no século 20 e estabelecemos a paz graças à UE."

"Encorajamento"

O ex-chanceler federal ale­­­­mão Helmut Kohl, um dos­­­­ artesões da criação do eu­­­­ro, também comemorou. Num­­ comunicado, ele disse que­­ o prêmio era um "encorajamento… para continuar no caminho da Europa unida". Já o presidente da Comissão Europeia, o braço executivo do bloco, José Manuel Durão Barroso, disse que o prêmio era a prova de que a UE era "algo muito precioso".

O entusiasmo não foi com­­partilhado pelo premier britânico, David Cameron, que evitou comentar o assunto. Ele tem sido pressionado pelos eurocéticos do Partido Conservador a adotar um discurso linha-dura com Bruxelas.

O prêmio, ao mesmo tempo em que deu uma injeção de ânimo na imagem desgastada do bloco, acabou expondo as divergências que persistem sobre os rumos do continente unificado. O Nobel da Paz foi criado num país — Noruega — que hoje se revela profundamente anti-União Europeia. A Noruega rejeitou duas vezes, por referendo, as iniciativas para entrar no bloco (em 1972 e 1994), e uma pesquisa recente mostrou que 80% dos noruegueses se opõem à UE.

"Acho um absurdo!", reagiu Heming Olaussen, líder de uma organização que luta contra a adesão norueguesa ao bloco.

Vivien Pertusot, do Insti­­tu­­to Francês de Relações In­­ternacionais (Ifri), em Bru­­xelas, defende a escolha do Nobel da Paz para a União Europeia (UE). Para ele, no momento de crise, o prêmio traz uma mensagem forte a todos os europeus: "não se deve, sobretudo, desistir".

"O prêmio é merecido por­­que envia uma mensagem­­ a certos europeus que se esquecem de realidades da UE. A primeira realidade é todo o caminho que percorremos para a construção europeia. Construímos formações sólidas e positivas", diz.

"Eurocéticos" e autoridades criticam a premiação

Folhapress

Os críticos à implantação da União Europeia, chamados de "eurocéticos", reprovaram a concessão do Prêmio Nobel da Paz ao bloco de 27 países, anunciada ontem.

O tom das críticas foi especialmente em relação ao papel na solução dos problemas econômicos e na atuação dos emissários europeus em crises internacionais, como os conflitos internos na Líbia e na Síria e na guerra do Iraque.

Representante de um dos países da União Europeia, o presidente da República Tche­­ca, Vaclav Klaus, ironizou o prêmio, dizendo que era uma brincadeira de mau gosto.

"A atual União Europeia é uma comunidade quase ilegítima e onde a democracia e a liberdade se escondem em um canto", disse, em comunicado.

O vice-presidente do Parla­­mento da Noruega, Akhtar Chaudhry, disse que o comitê do Nobel mostrou que está fora do controle dos noruegueses. O país concede o prêmio e recusou duas vezes a entrada no bloco europeu.

Humor

O deputado holandês Ge­­­­­­ert­­ Wilders, contrário à união, disse no Twitter que a de­­­­ci­­são não foi feliz pelo mo­­men­­to financeiro pelo qual­­ passa a Europa. "Prêmio Nobel para a União­­­­ Europeia. No mo­­men­­to em que Bruxelas e toda a Europa está em colapso e na­­ miséria. O que vem depois? Um Oscar para Van Rom­­puy?"

O líder do partido independente do Reino Unido, Ni­­­­gel Farage, fez referência aos­­ problemas ao criticar à es­­colha do comitê responsável­­ pelo Nobel.

"Isso mostra como os noruegueses têm senso de humor. A União Europeia criou pobreza e desemprego para milhões e nos últimos dois anos causou animosidade entre os países do norte e do sul da Europa".

O ex-presidente da Polônia e Prêmio Nobel da Paz de 1983,­­ Lech Walesa, também criticou o prêmio, dizendo­­ que­­ o valor em dinheiro de US$ 1,2 milhão (R$ 2,5 milhões) poderia ser entregue­­ a um ativista individual. "Exis­­tem muitos casos de empenhos pessoais em todo o mundo", acrescentou.

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