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A parceria entre as ditaduras de Nicolás Maduro e Vladimir Putin é conhecida, a ponto de a Rússia ter enviado no início de 2019 combatentes do Grupo Wagner para cuidar da “segurança” do tirano chavista, que enfrentava à época protestos por democracia na Venezuela.
Uma investigação divulgada no último fim de semana de abril pela ONG venezuelana Cazadores de Fake News mostrou que essa aliança se espraia para outra “guerra”: a da informação. Ou, como tudo que diz respeito a Maduro e Putin, a da desinformação.
A ONG relatou que a emissora estatal russa RT, proibida na Europa ocidental desde o início da guerra de Moscou contra a Ucrânia, está ajudando na “formação” de influencers venezuelanos para propagar as narrativas e as mentiras do regime de Maduro.
Um dos principais polos dessa parceria é a Universidade Internacional das Comunicações (Lauicom), com sede em Caracas, que foi criada por decreto presidencial em 2019, mas iniciou formalmente atividades acadêmicas apenas em março de 2022.
A Lauicom funciona em um prédio que anteriormente foi a sede do jornal independente El Nacional, confiscada em 2021 depois de um processo por difamação apresentado pelo número 2 do chavismo, Diosdado Cabello.
O jornal havia publicado em 2015 uma matéria do periódico espanhol ABC que alegava que Cabello estaria envolvido com o tráfico de drogas, segundo declarações de um ex-guarda-costas dele (os Estados Unidos declararam o chavista procurado em março de 2020, por supostas ligações com o Cartel de los Soles e as Farc, notórios pelo narcotráfico).
Após vencer a demanda judicial, o atual ministro do Interior e da Justiça da Venezuela cedeu o prédio para a Lauicom.
A Cazadores de Fake News apurou que na recente conclusão de um workshop de criação de conteúdo ministrado para mais de 70 participantes, o auditório da Lauicom foi tomado por gritos: “RT! RT! RT! RT! Viva a Rússia! Viva Putin!”.
Na cerimônia de entrega dos certificados, estiveram presentes Alexander Luchaninov, vice-diretor da RT em espanhol, Boris Kuznetsov, chefe de programação, e o embaixador russo em Caracas, Sergei Melik-Bagdasarov.
A Lauicom e o canal estatal russo assinaram um memorando de entendimento para formalizar cooperação acadêmica e de comunicação em 31 de janeiro, informou a ONG venezuelana, que acrescentou que parcerias semelhantes foram firmadas para formação de influencers na Argentina, Cuba, Nicarágua, África e Sudeste Asiático.
“Nossa universidade se dedica a estudar as armas defensivas que emergem das narrativas, das subjetividades e da história dos povos, com o objetivo de criar uma comunidade de conhecimento que sirva de força vital para tecer novas redes de comunicação popular contra-hegemônica”, disse em entrevista à RT a reitora da Lauicom, Tania Díaz, deputada do PSUV, partido da ditadura chavista.
A Cazadores de Fake News citou, como exemplo das narrativas que os “formados” na universidade buscam emplacar, um vídeo publicado nas redes sociais no início de março pelo criador de conteúdo argentino Diego Omar Suárez, conhecido como Michelo 2.0.
“[O presidente dos Estados Unidos] Donald Trump se c* nas calças com a Venezuela e renovou a licença da [petrolífera americana] Chevron. Isso mostra, mais uma vez, que a Venezuela triunfa e não se ajoelha diante do império norte-americano. É mil vezes melhor ser inimigo do império do que aliado”, afirmou Suárez.
“E a Venezuela, sem se ajoelhar, conseguiu as licenças [da Chevron] e negociar com o império. Enquanto isso, a Ucrânia, com [o presidente da Argentina, Javier] Milei como seu fantoche rastejante, perdeu o país inteiro e milhões de ucranianos arruinaram suas vidas, tudo por confiar no império”, acrescentou o influencer.
Obviamente, era mentira: dias após a publicação do vídeo, Trump determinou que a Chevron deveria encerrar suas operações na Venezuela. Mas, com a guerra de desinformação chavista sendo ajudada pelos russos (especialistas no assunto), muitas mentiras de Maduro seguem sendo espalhadas pelos subterrâneos da internet.







