Bogotá O presidente colombiano, Álvaro Uribe, defendeu ontem o vice-presidente do país, Francisco Santos, e o ministro da Defesa, Juan Manuel Santos, das acusações feitas pelo ex-líder paramilitar Salvatore Mancuso na terça-feira.
Mancuso, ex-chefe da organização Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC), disse que os dois integrantes do governo que são primos se encontraram com ele em meados dos anos 1990 para discutir acordos com o grupo paramilitar e conspirar contra o então presidente Ernesto Samper.
Ontem, Mancuso deu ainda mais força aos ataques, ao acusar o presidente do Partido Conservador, Julio Mazur, dezenas de prefeitos de direita e grandes empresas, como a Bavaria e a Postobón, de financiarem os paramilitares.
Milícias
Mancuso, que está preso e presta depoimentos em Medellín, afirmou que foi procurado por Francisco Santos para criar milícias paramilitares na província vizinha à capital, Bogotá. Já o ministro da Defesa, Juan Manuel, lhe procurou para conseguir apoio e derrubar o então presidente Ernesto Samper, em 1997. Na época, tanto Juan Manuel Santos quanto seu primo Francisco Santos eram cidadãos que trabalhavam para a iniciativa privada, mas eram personalidades muito conhecidas na cena colombiana. Francisco Santos era editor do maior jornal da Colômbia, o El Tiempo, de Bogotá.
"Tenho plena confiança neste gabinete, na honestidade do vice-presidente da República e de meus companheiros que compõem o governo nacional", disse Uribe à rádio Caracol.
As acusações de Mancuso complicam os esforços de Uribe, que enfrenta uma escândalo sem precedentes sobre a influência dos grupos paramilitares de extrema-direita na política e na economia da Colômbia.
O ministro da Defesa Juan Manuel Santos admitiu ter se encontrado com a ex-líder paramilitar Carlos Castaño (1967-2004), que tinha ligações com os cartéis, a CIA, o Mossad e foi assassinado em circunstâncias misteriosas em abril de 2004. Segundo ele, o encontro com Castaño aconteceu em 1997, mas afirma que o objetivo da reunião não era conspirar contra Samper, e sim fomentar conversações de paz entre a direitista Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC) e a guerrilha de esquerda das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
Mancuso não providenciou provas materiais sobre suas acusações contra os Santos, mas o procurador-chefe disse que elas serão investigadas. Além de partirem de um criminoso conhecido, as acusações ocorrem em meio a um escândalo maior no governo Uribe relacionado aos paramilitares. Cerca de doze deputados aliados a Uribe no Congresso já foram presos, sob acusações de envolvimento com os paramilitares.
"Esse depoimento acaba com a idéia de que os paramilitares cresceram e operaram do lado oposto do governo, das grandes empresas e da classe militar," diz Iván Cepeda, diretor do Movimento das Vítimas dos Paramilitares, que teve acesso aos depoimentos de Mancuso.



