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Representantes do Vaticano se reuniram com a promotoria chilena para discutir sobre as investigações de crimes sexuais cometidos por padres | CLAUDIO REYES/
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Representantes do Vaticano se reuniram com a promotoria chilena para discutir sobre as investigações de crimes sexuais cometidos por padres| Foto: CLAUDIO REYES/ AFP

Enquanto o Vaticano mantém uma missão de representantes do Papa no Chile para investigar as acusações de abuso sexual, uma nova operação policial invadiu escritórios da Igreja nesta quinta-feira (14), inclusive do Tribunal Eclesiástico de Santiago, para procurar informações sobre 14 padres acusados de terem tido relações sexuais com menores.

Procurado para falar sobre a ação dos agentes chilenos, o Vaticano afirma que continua trabalhando nos casos do Chile e destaca que haverá ainda uma outra comissão que será enviada para "investigar e aprofundar as investigações sobre os abusos".

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As denúncias de abuso datam de 2007 e há poucas provas a respeito - por isso, a busca e apreensão envolvem até o Tribunal Eclesiástico. "Ninguém está à margem da lei", afirmou o promotor regional de O'Higgins, Emiliano Arias. O caso voltou a público na semana passada e, preventivamente, a Santa Sé suspendeu os 14 religiosos. 

O enviado do papa para acompanhar a situação naquele país, o arcebispo de Malta, Charles Scicluna, defendeu a colaboração da Igreja com a sociedade civil. "O abuso de menores não é somente um delito canônico, também é um delito civil." Como resposta conjunta, será aberto um escritório somente para receber denúncias de abuso. 

Escândalo ganhou força neste ano

A discussão sobre o tema foi ampliada este ano. Em janeiro, Francisco chegou a defender o bispo Juan Barros Madrid, acusado de acobertar crimes de outro religioso, Fernando Karadima, hoje com 87 anos, pois não tinha recebido provas da participação dele no caso. Antes, em 2015, ele já havia escolhido Barros para liderar uma importante diocese no país. 

Depois de receber um relatório de 2,3 mil páginas por dois enviados do Vaticano ao Chile, Charles Scicluna, bispo de Malta, e Jordi Bertomeu, oficial da Congregação para a Doutrina da Fé, o Pontífice prometeu tomar rapidamente as medidas cabíveis. Em fevereiro e agora em junho o papa recebeu no Vaticano vítimas de abusos do padre Karadima.

No último dia 18 de maio, todos os bispos chilenos apresentaram um pedido de demissão coletiva de seus cargos em resposta ao caso Karadima. A decisão foi tomada após três dias de encontro com o papa Francisco, no Vaticano. No final, o papa aceitou a demissão de três bispos, incluída a de Barros.Os outros dispensados foram Gonzalo Duarte, de Valparaiso, e Cristian Caro de Puerto Montt.

Punições 

Em 2014, Silvano Tomassi, observador permanente da Santa Sé na Organização das Nações Unidas, declarou que a Santa Sé investigou 3,4 mil casos entre 2004 e naquele ano - e 848 padres foram afastados. Mas outros 2,5 mil apenas foram enviados a mosteiros para que tenham uma vida de "oração e penitência". 

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O chileno José Andres Murillo, um dos que denunciaram a situação em seu país ao papa Francisco e foi vítima de abusos, afirmou que, em sua opinião, ainda existe resistência dentro do Vaticano para tratar do assunto. "Em um encontro que tive com o papa, eu sugeri que ele olhasse o que estava ocorrendo também na África. Mas ele me disse que não achava que ali era um problema grande. Eu lhe disse: o senhor está errado." 

Ele ainda rejeita a tese de que Francisco não tinha informação sobre o que ocorria no Chile. "É impossível. Eu mesmo lhe entreguei tudo." Mas a esperança, interna e mesmo entre as vítimas, é que o caso sirva de "lição" ao papa e o ajude a mudar de uma forma permanente sua convicção.

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