
Pasadena, Califórnia - Até o fim do próximo ano, se tudo correr bem, uma caixa do tamanho de um pão caseiro irá sair de um foguete numa altura de 500 milhas (926 km) a partir da Terra. Lá, no vácuo, essa caixa irá hastear quatro velas triangulares capazes de captar os raios solares e viajar no espaço.
A Lightsail-1, conforme foi batizada, não conseguirá chegar à Terra do Nunca, todavia. Na melhor das hipóteses, o aparelho irá "velejar" por algumas horas e ganhar algumas milhas em altitude. Essas horas de navegação, entretanto, serão um marco e realizarão um sonho quase tão antigo quanto o primeiro foguete: navegar o cosmos com a ajuda dos ventos estelares assim como os primeiros marinheiros, há milênios, navegaram o oceano com os ventos da Terra.
"Velejar com a luz é a única tecnologia que pode algum dia nos levar às estrelas", diz Louis Friedman, diretor da Planetary Society, a organização mundial dos entusiastas do espaço.
Durante os próximos três anos, os membros da Planetary Society irão construir e lançar ao espaço uma série de naves de velas solares chamadas de LightSails. Os lançamentos serão fruto da longa colaboração entre a sociedade e a Cosmos Studios, empresa chefiada por Ann Druyan, produtora cinematográfica e viúva do astrônomo e escritor Carl Sagan, morto em 1996. Sagan fundou a Planetary Society em 1980.
Em princípio, uma vela movida a luz solar pode fazer qualquer coisa que uma embarcação a vela possa realizar. Ao contrário de outras naves espaciais, ela pode agir como uma máquina antigravidade, utilizando a pressão solar para equilibrar a gravidade do Sol e assim flutuar para qualquer local no espaço. Além disso, a nave não terá de carregar toneladas de combustível para foguetes.
Em outras ocasiões do passado, muitos laboratórios da Nasa estudaram velas solares. Os cientistas do Laboratório de Propulsão a Jato chegaram até a conjecturar o envio de uma vela solar para um encontro e carona com o Cometa Halley durante sua passagem próxima a Terra, em 1986. Os esforços, todavia, findaram, visto que a agência estava em busca de dólares para continuar pesquisando o envio de seres-humanos como tripulantes de viagens espaciais.
O Japão ainda mantém um programa de pesquisas, e protótipos de velas solares foram desenvolvidos a partir de satélites e foguetes, mas ninguém ainda chegou a testá-las no espaço.
As missões da LightSail terão intervalos de um ano entre si, estando a primeira agendada para o fim de 2010, conforme a disponibilidade de foguetes. A idéia, de acordo com Friedman, é pegar carona com o lançamento rotineiro de algum satélite. Vários satélites russos e norte-americanos oferecem esta possibilidade, de acordo com ele.
Friedman diz que o voo inaugural, o LightSail-1, será um sucesso se a vela puder ser controlada, mesmo que em uma fração pequena, por uma órbita e se puder demonstrar algum indício de estar sendo acelerada pela luz solar. "Para o voo inaugural, qualquer coisa que possamos medir será fantástica", declarou.
O cientista acredita que o segundo voo utilizará uma vela maior e irá durar vários dias, ganhando velocidade suficiente para aumentar a órbita da nave em dezenas ou centenas de milhas.
Já para o terceiro voo, Friedman e sua equipe pretendem levar a vela além da órbita da Terra e, para tal, irão contar com um pacote de instrumentos científicos para monitorar as emissões solares e fornecer um alerta antecipado de tempestades magnéticas que podem danificar a espaçonave.



