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Dois guardas suíços vigiam o caixão do papa Francisco dia e noite na capela de sua residência particular. Ao seu lado, uma vela acesa, e aos seus pés, algumas flores e poucas pessoas rezando por ele, apenas clérigos, freiras ou funcionários do Vaticano, todos imersos em uma atmosfera de profundo respeito.
O velório foi organizado no local que foi sua residência por pouco mais de 12 anos de seu pontificado, já que não quis morar no Palácio Apostólico: a Casa Santa Marta, um prédio simples dentro do Estado do Vaticano, ao lado da abside da basílica.
O caixão é de madeira, simples, e foi instalado em sua capela particular, localizada no andar térreo, como ele mesmo desejava, simplificando o que seria seu funeral.
O corpo do pontífice, que morreu ontem aos 88 anos, vítima de um derrame e após meses de graves problemas respiratórios, será transferido nesta quarta-feira (23) para a Basílica de São Pedro para visitação dos fiéis.
Mas, enquanto isso, sua capela funerária está sendo mantida de forma privada, reservada apenas para membros da Cúria, freiras ou funcionários da Santa Sé que devem mostrar seu credenciamento antes de cruzar os muros do Estado Papal, no centro de Roma.
Uma vez lá dentro, aqueles que desejam se despedir do pontífice devem esperar que um gendarme lhes permitia o acesso à Santa Marta, que é protegida por um rigoroso protocolo de segurança.
Em seguida, andam pelos corredores do andar térreo, entre santos, virgens e algumas plantas, até chegarem à capela, onde se entra em pequenos grupos.
Em seu interior, vários agentes da polícia do Vaticano e da Guarda Suíça, em trajes civis, verificam se ninguém sai da fila: o sinal é de máximo respeito e decoro.
Mas também estão lá por motivos de segurança, já que as primeiras autoridades eclesiásticas já começaram a chegar à residência, vários cardeais - certamente já pensando no conclave - e políticos, como o presidente da Itália, Sergio Mattarella.
A capela é uma pequena sala com teto triangular, como uma cabana de concreto, sustentada por uma fileira de quatro colunas, com luz natural entrando por um lado e uma estreita galeria de vidro com vista para as paredes leoninas.
Francisco descansa na abside da capela, sob um crucifixo de madeira e uma inscrição em letras douradas que atravessa o teto triangular: “Veni Sancte Spiritus reple tuorum corda fidelium”, uma oração: “Venha, Espírito Santo, e encha os corações de seus fiéis”.
No caixão, forrado com tecido vermelho, o papa está vestido com vestes vermelhas, um sinal da mais alta distinção e dignidade, com uma mitra episcopal branca na cabeça e um rosário nas mãos.
O caixão é guardado dia e noite por dois guardas suíços em seus uniformes coloridos, capacetes de metal, penas vermelhas e alabardas na mão, mas também pelos fiéis do papa que chegam ao recinto.
No meio da manhã, logo após a visita de Mattarella, havia cerca de 45 fiéis na capela, alguns sentados em cadeiras e outros em pé, também vários arcebispos, como indicam suas vestes vermelhas, assim como freiras e outros que dobravam os joelhos no chão para rezar profundamente, em meio a um silêncio sepulcral.
Uma mulher teve a imprudência de tirar o celular do bolso, mas um dos gendarmes que estavam zelosamente observando tudo a repreendeu e tirou o aparelho dela, apesar de sua relutância. Esse foi o único caso. Os demais rezam, meditam ou permanecem em silêncio.
Outros estavam apenas de passagem, desfilavam pelo corredor, chegavam ao nível do caixão, faziam o sinal da cruz e inclinavam a cabeça diante do corpo do papa em sinal de respeito.
Aos seus pés, em um tapete, alguém deixou alguns ramos de flores brancas e amarelas, as cores da bandeira do Vaticano.
Nessa capela, o cardeal camerlengo, Kevin Joseph Farrell, realizou o rito de confirmação da morte do papa e, em seguida, lacrou seus apartamentos, como manda o antigo protocolo, para evitar que os documentos do falecido sejam tocados.
A partir da manhã de quarta-feira, o corpo do pontífice será exposto diante dos fiéis na Basílica de São Pedro e seu funeral será realizado no sábado, antes de Francisco ser colocado para descansar para sempre em uma cripta simples na basílica romana de Santa Maria Maggiore.
Conteúdo editado por: Fábio Galão






