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Entrevista com George Ciccariello-Maher, professor da Universidade da Califórnia em Berkeley

O sociólogo George Ciccariello-Maher é um dos poucos estudiosos venezuelanos que falam abertamente a favor da revolução do governo de Hugo Chávez. Profes­­sor da Universidade da Califórnia, em Berkeley, e da Escola Vene­­zue­­lana de Planejamento, ele é autor dos livros Uma História Popular da Revolução Bolivariana e Uma Geo­­grafia Radical de Caracas.

Nesta entrevista por telefone à Gazeta do Povo, o autor de artigos divulgados em várias publicações científicas dos Estados Unidos diz que não há falta de democracia na Ve­­nezuela e que Chávez não é motor das mu­­danças políticas no país e sim um produto da sociedade venezuelana.

A esquerda radical da Venezuela apoia Chávez. Qual é a influência dos movi mentos radicais nas decisões do governo?

Existem vários setores buscando influenciar as decisões de Chá­­vez. O setor mais poderoso é o que não quer mudanças radicais, e é esse setor que teme mais os movimentos verdadeiramente revolucionários. A esquerda radical não é nada extrema, pois representa as grandes maiorias, e é por meio dessa posição que cobra sua influência no governo.

O que sustenta a popularidade de Chávez, que, após forte queda em 2009 voltou a crescer, nos últimos meses?

O apoio de que goza o presidente depende diretamente do processo de mudança política. Houve um momento em que as pessoas não estavam sentindo mudanças reais em suas vidas. Mas esse bloqueio foi quebrado e grande parte da população está se motivando de novo para implementar uma nova onda de mudanças.

A Venezuela sofreu redução do PIB pelo segundo ano consecutivo. Como explicar as projeções eleitorais, que indicam vitória dos candidatos governistas diante de uma crise econômica?

A absoluta falta de um programa coerente por parte da oposição. Continuam as queixas sobre a lentidão das mudanças. No en­­tanto, a oposição não tem alternativa, e oscila entre uma volta ao modelo neoliberal, totalmente desacreditado, e uma social-de­­mocracia que mantém precisamente os elementos do processo revolucionário que se mostrou popular. Quer dizer, a oposição não tem programa nem identidade própria.

O apoio ao governo se restringe às classes de menor poder aquisitivo ou há outros segmentos favoráveis a Chávez?

Aí está algo interessante: em 1998, Chávez ganhou as eleições com apoio da classe média. Ago­­ra, houve uma mudança, e o go­­verno tem maior apoio dos po­­bres, o que se deve a um processo de mudança social (como se pode verificar no sistema de educação bolivariana, nas missões etc). Po­­rém há que considerar que, nas últimas eleições presidenciais, Chávez ganhou com 60% dos votos – isso significa que o apoio não vem de um único setor, e sim que o presidente tem respaldo de todos os segmentos sociais.

A democracia na Venezuela está ameaçada?

Não. Na Venezuela existe democracia, assim como existe liberdade de expressão. O que há, mais notadamente, é uma forte batalha entre duas versões de democracia: a liberal-representativa e uma versão mais direta e participativa.

A Venezuela estaria melhor sem a experiência com Chávez?

Não, em absoluto. Porém devo reiterar que Chávez é mais um resultado do que motor das mu­­danças. É uma experiência do po­­vo venezuelano. (CM)

Leia amanhã entrevista com o advogado de Direito Constitucional Antonio Canova González, um antichavista declarado.

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