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O governo da Venezuela afirmou no fim de semana que não há provas de que garimpeiros brasileiros tenham matado mais de 70 pessoas em uma aldeia ianomâmi, mas grupos indígenas mantêm sua versão de que o massacre aconteceu.

Representantes dos ianomâmis disseram na semana passada que os garimpeiros cruzaram a fronteira com a Venezuela e, de helicóptero, atacaram a aldeia indígena. O caso teria acontecido em julho, mas, por causa do isolamento da região fronteiriça, só foi denunciado agora.

Autoridades venezuelanas disseram, no entanto, que recentes sobrevoos da área não corroboram a tese do massacre. "Podemos dizer ao país que não vimos indícios de mortes", disse pela TV a ministra venezuelana de Assuntos Sociais, Nicia Maldonado.

Grupos de defesa dos direitos indígenas e alguns políticos locais criticaram o governo venezuelano, acusando-o de ter precipitado suas conclusões.

A mata fechada da região e os hábitos nômades dos ianomâmis tornam improvável que as autoridades tenham chegado ao local exato do suposto massacre, segundo os críticos do governo. Mesmo os nativos, argumentam eles, levam dias para conseguirem se deslocar entre comunidades da área.

Em nota conjunta, 11 ONGs e tribos, inclusive os ianomâmis, disseram que "não se pode dizer que não há indícios", e pediram que o governo continue investigando.

O indígena Liborio Guarulla, governador do Estado venezuelano do Amazonas (sul), onde o ataque teria ocorrido, acusou o governo de Hugo Chávez de "mobilizar recursos só para silenciar a questão".

Para algumas autoridades, o relato de um ataque cometido por estrangeiros brandindo armas e explosivos a partir de um helicóptero é inverossímil. Esses funcionários acham que os agressores precisariam ter recursos financeiros, experiência militar e familiaridade com um terreno onde o acesso pelo alto é difícil, e além disso teriam de conhecer os hábitos e o paradeiro dos ianomâmis, que vivem em pequenos grupos e trocam constantemente de moradia.

"Seria algo extremamente difícil de fazer", disse o comandante da unidade do Exército venezuelano responsável pela região, general Rafael Zambrano. Por telefone, ele declarou que uma pequena patrulha militar continua inspecionando a área, por via das dúvidas.

Pessoas familiarizadas com os ianomâmis disseram que o apelo deles por uma investigação é algo excepcional, já que sua tradição tribal é de evitar falar dos mortos.

"O fato de eles fazerem essas acusações é um sinal de como o problema é sério", disse Marcos Wesley de Oliveira, coordenador de um programa regional para povos indígenas na ONG brasileira Instituto Socioambiental.

Nas últimas décadas, garimpeiros e outros forasteiros vêm exercendo uma crescente pressão sobre as terras ianomâmis nos dois lados da fronteira Brasil-Venezuela.

O governo do Brasil disse na semana passada que pediu mais informações a Caracas sobre o suposto ataque, e também esclarecimentos sobre o eventual envolvimento de brasileiros. Na segunda-feira, o Itamaraty afirmou que não havia recebido nenhuma solicitação para ajudar a Venezuela nas investigações.

Se o ataque tiver ocorrido, o número de vítimas continua incerto. No documento apresentado às autoridades venezuelanas, a tribo diz que apenas três membros da aldeia foram localizados vivos.

Segundo a nota, esses três índios haviam saído para caçar quando escutaram o ruído de um helicóptero, seguido de tiros e explosões. Eles então teriam alertados os ianomâmis de outro assentamento, que foram até a aldeia e encontraram corpos carbonizados.

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