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Manifestantes protestam contra o governo Nicolas Maduro na cidade de Los Teques | Ronaldo Schemidt/AFP
Manifestantes protestam contra o governo Nicolas Maduro na cidade de Los Teques| Foto: Ronaldo Schemidt/AFP

A oposição venezuelana e os apoiadores do governo fizeram novos protestos nesta quarta-feira (7), nas principais cidades do país, em mais uma demonstração do embate social por conta do referendo revogatório contra o presidente Nicolás Maduro.

Com bandeiras da Venezuela e cartazes, opositores e chavistas se encontraram, pacificamente, nas ruas, praças e parques próximos às 24 sedes do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), que amanheceram fechadas e fortemente protegidas pela polícia.

“Dissemos à cúpula corrupta e ineficiente que desgoverna: estão cercados por um país que quer mudança. Então, cedam, abram caminho, porque o que vem aqui é um referendo”, disse o porta-voz da Mesa da Unidade Democrática (MUD), Jesús Torrealba, na Praça Brión, leste de Caracas, onde a multidão fez um “panelaço”.

Em um ato público, o presidente Maduro garantiu que “hoje a paz triunfou”.

“Ninguém trará a violência fascista para a Venezuela, nem o golpismo, nem o ódio”, completou.

Em uma concentração em Barcelona, no estado de Anzoátegui, o líder chavista Elías Jaua insistiu em que não haverá referendo este ano.

“Não haverá porque fizeram tarde, por suas contradições e divisões”, declarou.

Em algumas cidades, os opositores não conseguiram chegar às sedes do CNE. Em Caracas, Lilian Tintori, mulher do dirigente preso Leopoldo López, aproximou-se da sede central com vários seguidores, enquanto governistas gritavam “Fora”, ou “Vai para casa”.

“Temos de fazer algo, o voto e o protesto pacífico são as únicas armas que temos. O governo controla quase todos os poderes e não sabe o que mais inventar para evitar o referendo”, disse Rosmina Castillo, de 52 anos, em Los Teques, no estado de Miranda, governador pelo líder opositor Henrique Capriles.

A menos de 100 metros, separados por apenas um quarteirão e divididos por uma grade metálica e filas de policiais, os chavistas vestidos de vermelho apoiaram o presidente.

“O fascismo não voltará. Estamos em uma guerra econômica que nos deixa passando fome, mas estamos firmes com o legado do comandante Hugo Chávez (1999-2013)”, afirmou Elías Pedraza, de 44 anos.

“Estamos aqui defendendo a revolução do ataque da direita apátrida. Firmes com Maduro”, declarou Alexander Rangel, um trabalhador da PDVSA, empresa estatal de petróleo, na cêntrica Praça Venezuela.

Desafio: manter a mobilização

Animada pela marcha multitudinária de 1º de setembro passado, em Caracas, a oposição também convocou protestos para o próximo dia 14, durante 24 horas, segundo o líder da oposição Henrique Capriles. Hoje, as manifestações foram mais modestas.

Para o analista Diego Moya-Ocampos, do IHS Markit Country Risk, se as mobilizações não foram concorridas o suficiente, podem “desmoralizar a população”.

“A oposição tem o desafio de manter as pessoas mobilizadas, sem deixá-las perder a esperança. A única forma de conseguir realizar o referendo é com pressão das ruas”, garantiu o analista Asdrúbal Oliveros.

“Mas é difícil para a oposição manter o impulso das pessoas nas ruas”, se o governo “nervoso” responder com mais agressões”, opinou a consultoria privada Eurasia Group, com sede em Nova York.

A MUD considera o referendo uma “válvula de escape” para a insatisfação e a angústia dos venezuelanos com a escassez de quase 80% de alimentos e remédios, assim como pela maior inflação do mundo, que deve chegar 720% este ano, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

“Estou cansado. Tenho dois filhos pequenos e não quero para eles um país como o que temos agora. Estamos mostrando ao governo que queremos uma mudança já”, declarou Carlos Vivas, de 47, que marchou em San Cristóbal, no estado de Táchira.

Maduro, que segundo pesquisas privadas tem uma impopularidade de aproximadamente 75%, atribui a crise à queda dos preços do petróleo e ao que chama de “guerra” econômica de empresários e políticos de direito que pretendem, segundo ele, instalar um governo neoliberal fiel aos Estados Unidos, após 18 anos de chavismo.

A MUD acusa o CNE de adiar o processo para que o governo ganhe tempo. Se o referendo acontecer até 10 de janeiro de 2017 e Maduro perder, novas eleições presidenciais serão convocadas. Caso a votação aconteça depois dessa data, mesmo que o mandato seja revogado, ele será substituído por seu vice.

O governo afirma que não acontecerá um referendo em 2016, porque a oposição iniciou os procedimentos de maneira tardia, por conta de conflitos internos.

Para acelerar o processo, a oposição exige que o CNE fixe a data e as condições para a coleta de quatro milhões de assinaturas (20% do padrão eleitoral), necessárias para que o referendo revogatório seja convocado.

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