Veredito de Saddam agrada a inimigos e decepciona alguns árabes

• 0

A pena de morte de Saddam Hussein causou satisfação em países que ele invadiu, pesar entre seus admiradores palestinos e ressentimento de alguns árabes que o consideram vítima de um julgamento-show inspirado pelos Estados Unidos.

Os kuweitianos, que sofreram com os sete meses de ocupação iraquiana entre 1990 e 1991, aplaudiram a decisão da corte de Bagdá condenando o ex-presidente iraquiano à forca por crimes contra a humanidade.

"São boas notícias'', disse o analista político do Kuweit e ex-ministro do petróleo Ali al-Baghli.

"Saddam merece ser enforcado por causa das atrocidades que causou ao seu povo nos últimos 35 anos e aos vizinhos também. Ele enviou milhões de pessoas para a morte.''

O Irã disse esperar que Saddam, condenado pela morte de mais de 148 xiitas da cidade iraquiana de Dujail, seja julgado também por crimes que o país o acusa de ter cometido durante a guerra Irã-Iraque (1980-1988).

Ali Farhoudi, de 38 anos, veterano do conflito, manifestou uma das visões mais comuns entre os iranianos, de que a forca é uma punição muito misericordiosa para o ex-presidente iraquiano.

"O que eu sofri durante a guerra nunca será compensado, mesmo se ele for enforcado 100 vezes'', disse Farhoudi.

Soroush Ramazani, 17, é muito jovem para se lembrar da guerra, mas disse que Saddam deveria ser torturado até a morte pelos crimes.

"Talvez na vida após a morte, as torturas que Deus lhe dará no inferno sejam uma punição melhor'', acrescentou Hossein Vahidi, de 24 anos.

SIMPATIA PALESTINA

Mas entre os palestinos há grande simpatia por Saddam. Ele é admirado por ter desafiado os EUA e por ter disparado mísseis em Israel na Guerra do Golfo, em 1991. Ele também mandou dinheiro para famílias de homens-bomba palestinos.

"Estou muito triste hoje. A pena de morte para o presidente iraquiano é opressão, é injusta'', disse chorando a dona de casa Najah Jabajy, 30, em Nablus, Cisjordânia.

Osama Issa, comerciante de 23 anos, disse: "Isso é um insulto para os árabes. Saddam cometeu grandes erros, mas veja o Iraque hoje: sangue e massacres diários.''

Fawzi Barhoum, porta-voz do movimento Hamas, que está no governo palestino, disse que o veredicto teve motivação política.

"O julgamento... foi uma mensagem para todo o mundo árabe e muçulmano sobre o destino de quem não obedecer as ordens dos EUA e de quem apóia claramente o povo palestino'', afirmou.

Abo Kifah Alqawasmeh, 56, administrador de uma clínica médica em Hebron, na Cisjordânia, disse tratar-se de um "dia negro'' para os árabes.

"Saddam Hussein é um símbolo de dignidade árabe e um líder real contra os inimigos dos árabes no Oriente Médio'', disse.

Em outras partes do mundo árabe a reação foi contida, apesar de muitas pessoas considerarem o julgamento como uma farsa orquestrada pelos EUA.

"Teríamos celebrado se o veredicto fosse para enforcar todos os soldados americanos no Iraque'', disse o estudante iemenita Yousef Melfi.

Hamid al-Mohkami, professor em Sanaa, disse que o julgamento foi manipulado, mas que de qualquer maneira Saddam merecia morrer .

Mustafa al-Sayyid, cientista político da Universidade do Cairo, descreveu o julgamento como "justiça do vencedor.''

"A lei com base na qual todo o julgamento foi conduzido não foi uma lei iraquiana, mas sim uma lei estrangeira, imposta por autoridades de ocupação.''

Magdi Mohamed Ahmed, 51, vendedor de rua no Egito, criticou o que chamou de "show patrocinado pela América'' e disse que Saddam vai morrer como "mártir do seu país.''

Hilal Khashan, professor de ciências políticas da Universidade Americana de Beirute, disse que estes sentimentos são comuns, mas que Saddam, humilhado, já não poderia conduzir as massas árabes.

"Ele não é visto como herói, é um líder caído que saiu da consciência árabe'', disse Khashan.

O analista Baghli, do Kuwait, disse que outros líderes árabes deveriam observar o destino de Saddam e perceber que sua imunidade pode não durar muito.

"Nunca se sabe - um dia ou outro a situação pode virar, como no Iraque'', disse.