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O influente vice-presidente do Banco Central russo Andrei Kozlov, 41, morreu na madrugada de quinta-feira depois de ser baleado, em um crime que a polícia diz ter sido encomendado. Kozlov era o responsável pela fiscalização do sistema bancário do país.

Ele é a pessoa mais importante a ser assassinada na Rússia nos seis anos do governo de Vladimir Putin. O atentado aconteceu quando Kozlov saía de um estádio onde assistira a um jogo de futebol entre funcionários do BC, na noite de quarta-feira.

O funcionário foi levado para o hospital com hemorragia no peito e na cabeça, e morreu horas depois de uma cirurgia de emergência. O motorista dele também foi baleado e morreu no local do crime.

- Andrei Kozlov morreu nesta manhã (madrugada no Brasil) - disse Inna Sigeyeva, subchefe do serviço médico do hospital Número 33, à Reuters.

As instituições financeiras russas estão chocadas. Kozlov comandava uma destemida campanha para fechar bancos envolvidos em lavagem de dinheiro. A cada semana, dois ou três bancos são fechados na Rússia, e por isso Kozlov tinha muitos inimigos e pode ter pagado caro por sua atuação.

- Ele estava no limite na batalha contra o crime financeiro. Era um homem muito honesto e bravo, e por meio da sua atividade ele repetidamente violava os interesses de financistas sem princípios - disse o ministro das Finanças, Alexei Kudrin.

Ainda na semana passada, Kozlov havia defendido em um fórum de instituições bancárias que houvesse penalidades mais duras para banqueiros que lavam dinheiro.

Os mercados financeiros russos estão acostumados a surpresas desagradáveis e reagiram com tranqüilidade. As ações do Sberbank subiram 1,7%, e o rublo abriu quase inalterado frente ao dólar.

Mas a morte de Kozlov remete aos violentos anos do presidente Boris Yeltsin e é uma notícia ruim para Putin, que gosta de alardear a estabilidade que ele trouxe ao país -- algo importante para que ele tenha influência na sucessão presidencial em 2008.

Al Breach, economista-chefe do banco suíço UBS, disse que o homicídio pode deixar os investidores nervosos, mas não deve abalar o clima geral do mercado.

- Vai lembrar às pessoas do risco político antes da eleição presidencial - afirmou à Reuters.

HERANÇA VIOLENTA

A Rússia tem cerca de 1.200 bancos. Muitos deles são pequenas instituições com pouco capital, e especialistas dizem que irregularidades são comuns.

- Assassinaram Kozlov porque ele retirou licenças bancárias. É horrível que esses ataques ainda aconteçam na Rússia. O governo precisa achar os assassinos - disse Vladislav Reznik, presidente da Comissão de Finanças da Duma (Parlamento), à Reuters.

O sistema bancário do país mergulhou no caos depois do colapso da União Soviética, quando a violência virou parte dos negócios. Um analista disse que o atentado mostra que o setor ainda nao sepultou o seu passado.

A morte de banqueiros e empresários por pistoleiros era comum na década de 1990, mas praticamente parou desde que Putin assumiu o poder, em 2000.

Esse é o atentado de maior repercussão na capital russa desde que Anatoly Chubais, executivo-chefe do monopólio elétrico russo, escapou ileso de um ataque contra seu carro, em março de 2005.

Em 1997, tiros foram disparados através de uma vidraça contra o então presidente do Banco Central, Sergei Dubinin.

- Este fato nos leva a reconhecer que o Banco Central vem se voltando contra uma comunidade que tem suas raízes nos anos selvagens da transição do comunismo para o capitalismo - disse Rory MacFarquhar, economista da Goldman Sachs em Moscou.

Kozlov, que era casado e tinha três filhos, começou sua carreira no Banco Central da então União Soviética, aos 24 anos. Ascendeu rapidamente e chegou a vice-presidente em 1997. Dois anos depois, saiu para uma temporada no setor privado, mas voltou ao BC em abril de 2002.

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