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Em  Nova York, número de homicídios cresceu 5,9% neste ano. | Lucas Jackson/Reuters
Em Nova York, número de homicídios cresceu 5,9% neste ano.| Foto: Lucas Jackson/Reuters

Contrariando a lógica, a violência tem crescido em grandes cidades dos Estados Unidos, apesar do avanço econômico que o país vive. O fenômeno tem ocorrido em todos os cantos da nação e começa a preocupar as autoridades. Há, segundo especialistas, o risco de que isso se torne uma tendência, revertendo a redução de casos graves, como assassinatos, que vigorou nas últimas duas décadas. O próprio governo federal demonstra preocupação, conforme expôs o presidente Barack Obama recentemente.

Os números impressionam. A quantidade de assassinatos no acumulado até o dia 30 de outubro deste ano em Baltimore (Maryland) cresceu 69,7% sobre período igual do ano passado. Em Washington, o crescimento foi de 48,9%. Até em Nova York, considerada por muitos um exemplo de segurança com a política de tolerância zero, os homicídios cresceram 5,9% neste ano.

O grande questionamento entre as autoridades e especialistas é entender a causa do fenômeno e evitar que se torne uma tendência. Desde meados dos anos 90, os homicídios têm diminuído no país. Muitos esperam, inclusive, que o número total de assassinatos feche 2015 em patamar inferior a 2014, impactado pelos números das pequenas cidades, mas o dado geral encobre a situação dos grandes centros.

Pobreza e criminalidade

Andrew Papachristos, professor de Yale, lembra que a economia, por si só, não ajuda a explicar sozinha o crescimento de homicídios em algumas cidades. Ele está entre os que defendem que é necessário esperar um pouco mais antes de ver uma tendência.

“Há uma relação complicada entre a economia e o crime, que continuou a sua tendência descendente nos EUA mesmo nos anos da recente recessão. É verdade que as taxas de criminalidade são mais altas nas comunidades mais desfavorecidas, mas não é preciso dizer que as taxas de criminalidade e pobreza oscilam em sincronia”, disse.

Abuso da força policial põe país em alerta

A violência policial é a que está em maior evidência nos Estados Unidos. O país está vivendo uma série de confrontos. A Anistia Internacional iniciou neste ano uma campanha contra o abuso fardado. De acordo com a entidade, casos de mortes de suspeitos por policiais mostraram que há, em muitos estados, um descontrole sobre o uso da força. “A Anistia Internacional se preocupa se as leis estaduais sobre o uso de força letal por policiais estão de acordo com as normas internacionais e apela a todos os estados para analisar e rever o uso de força letal”, afirma a entidade.

Esse pedido vai na linha do que defende o presidente, que deseja rever o sistema da justiça criminal no país. Obama acredita ser um absurdo que os EUA, com 5% da população global, detenham 25% dos presos do planeta, 2,2 milhões de pessoas, que custam ao ano US$ 80 bilhões aos governos. O presidente, contudo, quer afastar o debate do policial versus cidadão. Ele afirma que mesmo as comunidades mais carentes e violentas desejam ter mais policiamento.

“Rejeito que quando se trata de segurança pública haja um “nós” e um “eles”. Essa narrativa muitas vezes fica a serviço de meios de notícias que buscam audiência, tweets que procuram retweets, políticos que querem atenção, e é chocante que candidatos façam isso.”

Questão racial

Richard Rosenfeld, pesquisador da Universidade do Missouri, analisou o que ocorreu em St. Louis após o Caso Ferguson – quando a polícia matou o jovem negro Michael Brown, gerando uma onda de protestos. Ele detectou que é possível ver que a violência estatal gera maior número de casos de homicídios. Mas é cauteloso ao avaliar todo o cenário: “Mesmo assim, a taxa de homicídios em St. Louis em 2014 permaneceu bem abaixo dos níveis atingidos no início de 1990”, disse.

A questão racial, contudo, é a que mais se relaciona com os demais temas. Em Baltimore, segundo levantamento do jornal “Baltimore Sun”, mais de 90% das vítimas de homicídio neste ano são negras, apesar de representarem 64% da população. Os brancos, que são 31% da população da cidade, eram somente 5% dos assassinados. Da mesma forma, a maior parte das vítimas policiais eram negras.

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