São Paulo - Analistas são unânimes ao identificar tensões na visita da secretária de Estado americana, Hillary Clinton, ao Brasil. "Há uma agenda muito complicada para a secretária de Estado discutir com o chanceler (Celso) Amorim quando ela chegar ao Brasil", afirma o professor Riordan Roett, diretor do Programa de Estudos Latino-americanos da Universidade Johns Hopkins, em Washington.
Roett lembra, em entrevista por telefone, que emergiram várias diferenças entre Brasil e Estados Unidos nos últimos meses, em temas como o Irã, as negociações climáticas mundiais e os subsídios norte-americanos a alguns produtos, como o algodão.
A visita de Hillary deve incluir um encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na quarta-feira, e outra reunião com Amorim. Hillary faz uma escala no Brasil em meio a um giro por alguns países da região, com paradas no Uruguai e no Chile, além de nações da América Central.
O professor de Relações Internacionais Marcelo Coutinho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), lembra que, como é normal em visitas desse tipo, há uma "agenda múltipla".
Além do Irã, outras questões provavelmente levantadas nas conversas serão a reforma do Conselho de Segurança da ONU reivindicação antiga do Brasil, sobre a qual não há consenso , a emperrada Rodada Doha de liberalização comercial, a crise política em Honduras e o embargo norte-americano a Cuba.
Coutinho acredita que o país possa pedir uma mediação norte-americana sobre as Malvinas foco de divergência entre Argentina e Grã-Bretanha, que voltou à pauta com o anúncio de que os britânicos podem explorar petróleo nas ilhas. Ao menos, segundo ele, o Brasil pode pedir que Washington, que se declara neutro, mas é historicamente pró-Reino Unido, não se posicione sobre o tema, ao menos por ora.
Proximidade
As relações brasileiras com Washington são "a principal parceria estratégica do país nos últimos 60 anos", lembra Amado Luiz Cervo, professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB).
Cervo, aliás, não vê motivo de preocupação nas atuais diferenças: "Sempre tivemos divergências", resume. Ele minimiza também a questão do Irã. "O mal-estar com relação ao Irã é uma ficção", acredita. O professor lembra que o universalismo é um dos pilares da política externa brasileira, portanto seria importante buscar boas relações também com países como China, África do Sul e o mundo árabe.
Na opinião de Cervo, o Brasil está tentando mediar o impasse nuclear iraniano, ao manter boas relações com Teerã e também com Israel.



