
O futuro do Paraguai no Mercosul e na União das Nações Sul-Americanas (Unasul) será decidido amanhã, durante encontro de líderes de países da região, na cidade de Mendoza, Argentina. Devem participar da decisão Brasil, Argentina, Uruguai, Chile, Bolívia, Colômbia, Equador, Venezuela e Peru.
O afastamento do Paraguai das duas organizações até a eleição presidencial que será realizada no país vizinho no próximo ano medida que tem apoio da maioria dos países sul-americanos abre a possibilidade de a Venezuela entrar no Mercosul. O bloco é formado por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, enquanto que a Unasul é integrada por todos os países sul-americanos.
Para a entrada de um país no Mercosul é necessária a aprovação dos parlamentos de todos os países membros. No caso da Venezuela, o Legislativo paraguaio é o único que se opõe à entrada do país de Hugo Chávez na união aduaneira.
Segundo um porta-voz do Itamaraty, o Brasil é entusiasta da entrada dos venezuelanos no Mercosul. Para que isso ocorra, no entanto, é preciso efetivar a suspensão do Paraguai e que haja manifestações formais de um ou mais presidentes do bloco.
Ruptura democrática
Ambos os blocos, Unasul e Mercosul, consideraram que o veloz processo de impeachment do presidente Fernando Lugo foi uma ruptura da ordem democrática. Amparado pela Cláusula Democrática do Mercosul, a Argentina, Brasil e Uruguai decidiram suspender a participação do Paraguai em todas as reuniões do bloco regional durante esta semana em Mendoza.
Diplomatas que participam das discussões prévias disseram ontem que a definição está nas mãos dos presidentes. "A tendência é não pesar a mão sobre o Paraguai porque a dívida dos três vizinhos com os paraguaios é enorme", comentou um diplomata à Agência Estado (AE) em referência à Guerra da Tríplice Fronteira (1865 a 1870), quando Argentina, Brasil e Uruguai se uniram contra o Paraguai, que saiu derrotado.
Muitos setores paraguaios que apoiam a presidência de Frederico Franco, que substituiu Lugo, já começam a fazer alusões a uma nova Tríplice Fronteira por causa da ameaça do Mercosul de excluir o Paraguai do bloco regional. Uma fonte brasileira afirmou à AE que "o governo do Brasil não pretende adotar nenhum tipo de sanção econômica porque isso poderia prejudicar a população paraguaia".
Aliados defendem a candidatura de Lugo ao Senado paraguaio
Folhapress
Os aliados do presidente deposto Fernando Lugo já avaliam a possível candidatura do líder para o Senado paraguaio. A ideia é capitalizar a repercussão internacional da destituição de Lugo para que o ex-mandatário encabece uma grande chapa de candidatos de esquerda ao Legislativo nas eleições de 2013.
Segundo Mario Ferrero, um dos integrantes da chamada Frente Guasu (frente de esquerda que apoiou Lugo no poder), a decisão sobre o destino político do ex-presidente deve ser tomada nas próximas semanas.
"Vou ser muito sincero, ainda que muitos me critiquem por isso, mas se Lugo não tomar uma decisão logo, a esquerda se desmontela", disse Ferrero.
Ricardo Canese, outro porta-voz da frente de esquerda, admitiu ao jornal ABC Color que a agremiação considera difícil que Lugo retorne à Presidência. "Esta luta [pela democracia] não passa precisamente para que volte ao governo. Estamos abertos a saídas alternativas", disse ele, de acordo com esse jornal.
Ontem, Lugo responsabilizou seu sucessor, Federico Franco que foi seu vice por possíveis sanções internacionais contra o país em consequência de sua destituição pelo Congresso.
"Responsabilizamos o vice-presidente Federico Franco por qualquer consequência econômica que se possa observar a partir desta desastrada aventura golpista", destacou o ex-presidente.
Senadores brasileiros convidam Patriota para debater destituição
Yasuyoshi Chiba/AFP
A Comissão de Relações Exteriores do Senado aprovou ontem convite para o ministro Antônio Patriota (Relações Exteriores) participar de audiência para discutir a queda do ex-presidente do Paraguai Fernando Lugo. A audiência deve ocorrer no dia 11 de julho.
A data pode ser antecipada, segundo o senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL), se o ministro tiver disponibilidade de agenda. Presidente da comissão, Collor reiterou que o impeachment que resultou na saída de Lugo não pode ser considerado inconstitucional nem um "golpe" de Estado.
Na opinião do senador, que deixou a Presidência da República em 1992 após sofrer processo de impeachment, a Constituição do Paraguai prevê o julgamento político do presidente por mau exercício de suas funções.
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) relembrou o impeachment de Collor ao afirmar que o então presidente teve direito à ampla defesa, o que não teria ocorrido com Lugo. Collor rebateu o petista ao afirmar que "não pode haver paralelo" entre os dois processos por serem "situações históricas diferentes".
O presidente da comissão criticou o fato de os países do Mercosul terem suspendido o Paraguai do bloco econômico por considerar que o processo de impeachment foi legal. "Retirar o Paraguai porque ele cumpriu a Constituição?", questionou.
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