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As Metas do Milênio estabelecidas pela ONU estão sendo cumpridas pelos gestores públicos? Políticas públicas e administrações federal, estadual e municipal, hipoteticamente responsáveis pelo bem comum, parecem se omitir ou não querem colocar o dedo na ferida.

A mídia nos convoca a fazer a nossa parte pela conservação da água do planeta. O foco está de certa forma errado, disseminando que basta fechar a torneira enquanto se escova os dentes ou tomar banhos rápidos e tudo se resolve. Ou seja, se a água do planeta está acabando, a culpa é inteiramente sua, que pensa apenas na torneira que não tem nenhuma compaixão pela água que escorre pelo ralo.

O problema é que as mesmas companhias de águas e esgotos que realizam estas campanhas são exatamente as responsáveis por jogar fora cerca de 40% da água que captam, antes mesmo de fazê-la chegar à sua casa. Pior, destinam ainda água potável de boa qualidade para resfriamento de caldeiras e limpeza de pátios, dentre outros absurdos. Claro que o bom senso ao usar a água em cada residência contribui de alguma forma, mas para classificar os verdadeiros "culpados" a regra é bem mais complexa: o poder público, as indústrias, o comércio, a agricultura têm parcela significativa no rol de "culpados".

Um exemplo prático é o que ocorre no Rio Iguaçu, um orgulho não apenas dos paranaenses, mas dos brasileiros. Se as Cataratas do Iguaçu são consideradas uma das maravilhas que encantam turistas do mundo inteiro, por outro lado a região onde nasce esse importante rio brasileiro está muito longe de provocar as mesmas impressões. Poluição e impactos ambientais brigam por espaço no Rio Iguaçu ao longo dos seus mais de 1,3 mil quilômetros de extensão. Ele nasce pequeno, da confluência do Rio Atuba com o Rio Iraí, e acaba "morrendo" em meio ao lixo, a poucos quilômetros dali, em Curitiba, considerada "capital ecológica" e "cidade-modelo.

A população não pode aceitar passivamente os graves problemas do "lixo-água" que torna o Rio Iguaçu, nesse trecho, um dos mais poluídos do Brasil. A cobrança da sociedade aos gestores públicos é um exercício de cidadania e seus questionamentos são extremamente necessários para as atuais e as futuras gerações; ou o leitor espera que seus filhos e netos ainda sofram com enchentes e doenças relacionadas com a má gestão de águas?

No trecho final, o rio desagua nas Cataratas do Iguaçu. Nessa hora a natureza mostra seu poder, reafirmando a vitória de um rio que não se deixa morrer pelas mãos da ignorância dos gestores públicos, pela falta de educação, pela ganância e pela falta de preocupação com o nosso próprio futuro.

José Roberto Borghetti, biólogo, foi coordenador técnico do projeto Águas do Amanhã, do GRPCom.

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