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| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Em paralelo ao acirramento do mau humor dos atores sociais brasileiros, ocasionado pela constatação da precariedade do funcionamento da matriz política e institucional, englobando os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, o setor agropecuário vem consolidando sua condição de protagonista ou reduto de vitalidade econômica, com resultados auspiciosos em 2017. O volume da safra, o valor da produção e a produtividade das lavouras devem registrar expansão de 29,2%, 11,3% e 21%, respectivamente, ao longo do ano. Só a colheita de soja deve chegar a 113,9 milhões de toneladas, aproximando-se da norte-americana, estimada em 117,9 milhões de toneladas. Entre janeiro e maio deste ano, as vendas externas do agronegócio somaram US$ 38,86 bilhões, 5,9% superiores às obtidas em igual período de 2016. No mesmo lapso de tempo, constatou-se substancial elevação da comercialização interna de tratores de rodas, cultivadores, colheitadeiras, fertilizantes e defensivos agrícolas.

Afora a ilha de prosperidade do agronegócio, os demais indicadores econômicos contabilizados pelo país neste começo de 2017 têm sido pouco generosos no atendimento das expectativas manifestadas por governo e agentes, na direção da superação definitiva da mais aguda e longa recessão da história e desencadeamento de uma fase de firme retomada do crescimento. As estatísticas correntes, relativas ao primeiro quadrimestre do ano, revelam, na mais otimista das avaliações, discreta reação dos níveis de atividade, em resposta à rota cadente da inflação e dos juros – que, por sinal, serviu para interromper o processo de corrosão do poder de compra e endividamento dos consumidores – e a algumas providências pontuais adotadas pelo Executivo federal, como a liberação dos recursos das contas inativas do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).

Parece lícito especular acerca da persistência dos sintomas de estagnação econômica, ao menos até o fim de 2018

A aludida recuperação ainda emite sinais bastante contraditórios, desprovida de fôlego para expressar natureza generalizada, o que reforça as pressuposições quase consensuais, levantadas pelos meios especializados menos triunfalistas, dando conta de que, depois de escapar da prisão da derrocada depressiva, o aparelho de negócios teria alcançado o extenso campo minado da estagnação.

Acrescente-se, à conjuntura adversa, a multiplicação das expectativas de deterioração da atmosfera política e institucional, combalida desde o princípio de 2015 e transformada em verdadeiro tsunami a partir da veiculação de diálogos não republicanos travados entre o presidente Temer e o empresário Joesley Batista, do grupo JBS. Considerando a ampliação das dúvidas quanto à sustentação do governo Temer e, por extensão, quanto à aprovação e implantação das reformas de base, imprescindíveis à restauração da solvência do setor público e da eficiência da microeconomia, parece lícito especular acerca da persistência dos sintomas de estagnação econômica, ao menos até o fim de 2018, aspecto comprovado pelas projeções realizadas pela pesquisa Focus, do Banco Central.

Leia também:O bem que deriva do mal (artigo de José Pio Martins, publicado em 8 de junho de 2017)

Em outros termos, depois de deixar a unidade de terapia intensiva, o organismo econômico brasileiro deverá permanecer em regime de internamento, nos quartos ou enfermarias dos hospitais da República, e receber criteriosa assistência, até como estratégia de defesa contra as doenças oportunistas trazidas por feiticeiros de plantão. Afinal de contas, como dizia o doutor Ulysses Guimarães, presidente da Assembleia Nacional Constituinte de 1987-1988, “quem tomba e não se levanta não é merecedor da vitória”.

Gilmar Mendes Lourenço, economista, consultor e ex-presidente do Ipardes, é professor da FAE Business School.
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