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Enquanto a esquerda avança organizada, financiada e disciplinada, o campo político da direita, tradicionalmente defensor da liberdade individual, responsabilidade fiscal e valores conservadores, tende a cair em um perigoso ciclo de fragmentação interna. Essa divisão enfraquece enormemente a capacidade de oposição efetiva ao avanço do estatismo, do populismo e do autoritarismo. A história, por diversas vezes, já demonstrou claramente os altos custos da divisão política, mostrando que aqueles que não aprendem com o passado estão fadados a repeti-lo.
Um dos exemplos históricos mais emblemáticos é o da Espanha nos anos 1930. O campo nacionalista espanhol estava dividido em várias facções ideologicamente próximas, porém incapazes de uma união estratégica. Essa fragmentação permitiu à esquerda, unificada na Frente Popular, estabelecer rapidamente um regime revolucionário. O resultado foi uma das guerras civis mais sangrentas e devastadoras da história europeia moderna, com custos sociais e econômicos altíssimos e marcas profundas que ainda hoje persistem na sociedade espanhola.
Outro exemplo significativo vem da Alemanha da República de Weimar. Durante as décadas de 1920 e 1930, a direita alemã, composta por liberais clássicos, conservadores tradicionais e movimentos nacionalistas, estava fragmentada e preocupada com disputas internas sobre pureza ideológica e estratégias políticas divergentes. Essa divisão abriu espaço para a ascensão meteórica do nazismo, um movimento totalitário que aproveitou habilmente as divisões e fraquezas internas desses grupos para consolidar seu poder absoluto, mergulhando o mundo em uma das maiores tragédias do século XX.
Além disso, a fragmentação da direita também foi decisiva em episódios recentes da história política europeia. Na França contemporânea, por exemplo, a direita moderada, conservadora e liberal frequentemente se encontra em disputas internas, deixando o campo aberto para o crescimento e fortalecimento do populismo, tanto de direita quanto de esquerda. Esses conflitos internos frequentemente levam à perda de eleições cruciais, facilitando o avanço de políticas contrárias aos próprios princípios defendidos por esses grupos fragmentados.
Nos Estados Unidos, durante diversas eleições presidenciais, a fragmentação interna dos republicanos entre moderados, libertários e conservadores tradicionais enfraqueceu a coesão necessária para enfrentar o avanço progressista representado pelos democratas. Em vários casos, essas divisões internas favoreceram vitórias eleitorais dos adversários políticos, possibilitando a implementação de políticas diametralmente opostas às defendidas pelos próprios republicanos.
Hoje, muitos países ocidentais vivenciam cenários semelhantes. Movimentos políticos de direita tendem a priorizar disputas internas pela suposta pureza ideológica ou autenticidade conservadora, negligenciando a construção de alianças estratégicas essenciais para conter o avanço da esquerda, que se mantém organizada e pragmática em sua atuação política.
O risco dessa fragmentação é evidente e perigoso: abrir caminho para que forças políticas que não hesitam em restringir liberdades, expandir o controle estatal e minar instituições democráticas avancem sem resistência efetiva. Com isso, surgem riscos reais para a democracia, para a estabilidade econômica e para a preservação dos direitos fundamentais das pessoas.
Portanto, é imprescindível que líderes e movimentos políticos ligados aos ideais de liberdade e conservadorismo compreendam claramente a importância crítica da unidade estratégica. Somente assim será possível resistir eficazmente às ameaças autoritárias e populistas que ganham força quando a direita prefere se dividir em vez de cooperar.
A história já provou diversas vezes: a fragmentação cobra um preço alto demais. Ignorar esse alerta histórico pode custar não apenas derrotas eleitorais, mas, sobretudo, o futuro das liberdades e da democracia.
Lucas Santos é cientista político e presidente do NOVO Paraná.
Conteúdo editado por: Jocelaine Santos



