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| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Ao terminar 2016, o Brasil estará com 206,8 milhões de habitantes. A produção nacional – medida pelo conceito de Produto Interno Bruto (PIB) aos preços atuais – ficará em R$ 6,1 trilhões. Se o PIB fosse dividido em fatias iguais entre a população, cada pessoa teria R$ 29.497 por ano, ou R$ 2.458 por mês. Estamos falando em reais. Fazendo a conta pelo dólar PPC (paridade de poder de compra) – que é o dólar usado para medir e permitir comparações com o resto do mundo –, o produto por pessoa fica em US$ 10 mil ao ano.

Essa é a principal medida da pobreza. Somos muito pobres e estamos longe dos países desenvolvidos, cujo produto por habitante passa de US$ 40 mil ao ano – portanto, quatro vezes o PIB por pessoa do Brasil. Aí, vem o governo, com seus funcionários e políticos tripulando os municípios, os estados e a União federal, e retira R$ 2,1 trilhões em tributos (mais de 34% do PIB, que é a tributação efetivamente arrecadada), sob a promessa de cumprir suas funções e melhorar a distribuição da renda por meio dos gastos públicos. E o que acontece? A distribuição da renda piora.

O Ipea afirma que o Estado brasileiro responde por um terço da concentração de renda

Quem diz isso é o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), órgão do governo federal. No início do governo Dilma, o Ipea publicou os resultados de um estudo preciso, informando que o governo aumenta a desigualdade por diversas vias: remuneração dos servidores públicos 23% acima da média do setor privado para as mesmas funções; previdência social dos servidores estatais muito acima dos trabalhadores privados, para quem o teto do INSS atualmente é de R$ 5.189 por mês, enquanto os servidores se aposentam com salário integral; sistema tributário com muitos tributos indiretos que fazem os pobres arcar com porcentual de sua renda maior que os ricos.

Tudo isso piora a divisão da renda nacional, mesmo com os programas sociais, como Bolsa Família, SUS, seguro-desemprego etc. O Ipea afirma que o Estado brasileiro responde por um terço da concentração de renda. O governo age como um pai que, diante de uma pizza com 100 fatias e dez crianças, afirma que as crianças mais fracas podem ser prejudicadas, anuncia que vai retirar 40 fatias e as dividirá a seu critério para melhorar a distribuição. Só que, para executar sua tarefa, o pai come 20 fatias e distribui as outras 20. Em síntese: as dez crianças, que tinham 100 fatias à disposição, agora só têm 80, porque esse pai terrível (o governo) comeu o dobro do que caberia a cada criança.

O governo é composto por duas categorias: os políticos (eleitos) e os funcionários (concursados). Ambos querem somente três coisas: poder, salários gordos e aposentadorias generosas. No fundo do coração, até podem querer o bem da nação, mas só depois de tirar uma parte para si. O fato é que ninguém é anjo. No setor privado não é diferente. O animal homem é naturalmente egoísta (no sentido de que defende seus próprios interesses), competitivo (entre ele e o outro, que perca o outro) e, claro, também é cooperativo e amoroso.

Entretanto, nesse jogo entre sentimentos egoístas e emoções altruístas, principalmente quando o outro não tem rosto e é apenas uma massa amorfa chamada “povo”, todos querem tirar o máximo para si. Há 100 mil anos não era diferente. O homem acordava e se embrenhava na mata para obter seu alimento. E ali, o instinto de sobrevivência o levava a tirar do caminho todo aquele que competia pela mesma caça. Portanto, novamente Roberto Campos: “Muitos dos que pregam a distribuição do bolo, o que eles querem mesmo é o controle da faca”.

José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade Positivo.
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