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 | Ilustração: Felipe Lima
| Foto: Ilustração: Felipe Lima

As greves de motoristas e cobradores do transporte coletivo são popularmente conhecidas como “greve de ônibus” – termo impreciso, pois os ônibus não fazem greve. Greves são ações de trabalhadores, que cruzam os braços para forçar uma negociação com os patrões. Todavia, o termo popular revela, mesmo sem a intenção de fazê-lo, uma característica das paralisações do transporte em nossa cidade: os ônibus em Curitiba parecem parar, muitas vezes, antes mesmo da decisão dos trabalhadores. Em outras palavras, quem decide parar são os patrões.

Como funciona? As concessionárias, segundo os contratos firmados com a prefeitura, podem exigir o equilíbrio econômico da prestação dos serviços sempre que os custos excederem uma margem estabelecida entre as partes. Ou seja, toda vez que há um aumento do custo da operação do transporte, as empresas podem exigir o reajuste dos repasses pagos pelo poder público.

O prefeito pode e deve intervir nas empresas em caso de interrupção dos serviços

Na greve não há vencedores

Todos os anos, as empresas de ônibus de Curitiba e região metropolitana recebem uma enxurrada de críticas, muitas improcedentes e algumas até por motivos que não lhes competem. Em ano eleitoral, o volume de críticas aumenta

Leia o artigo de Maurício Gulin, presidente do Setransp

Os empresários alegam hoje – e sempre, diga-se de passagem – que estão operando no prejuízo. Dizem que o repasse deveria ser de pelo menos R$ 4 por passageiro para o cumprimento do estabelecido no contrato. A prefeitura rebate, não concorda com os valores, e cria-se um impasse.

Alegando prejuízo, os empresários se veem no direito de atrasar salários. Ao deixar de pagar os trabalhadores, a resposta mais que evidente é uma greve. Todos já sabem, sobretudo os patrões, que o resultado do calote será a greve, é claro! Então, provocam as paralisações. Mas por que a greve interessa aos patrões?

A greve dos trabalhadores gera um efeito desejado pelos patrões pois, quando o sistema pára, os empresários ganham força para pressionar a prefeitura a dar o reajuste que eles reivindicam (a tarifa acabou de subir para R$ 3,70).

Os patrões passam, então, a jogar com os trabalhadores. Na segunda quinzena de janeiro, os empresários deixaram de pagar novamente parte dos salários, mas, na iminência da greve, acertaram as dívidas. Foi mais um alerta ao prefeito. Se necessário, para colocar a corda no pescoço de Fruet, como já fizeram por diversas vezes, simplesmente cortam os salários e deixam a bomba estourar. Quem paga o pato são os motoristas e cobradores, que volta e meia ficam sem dinheiro, e a população, que fica sem ônibus.

O próprio prefeito já caracterizou as greves como locaute, ou seja, greve patronal, o que é uma prática ilegal. Sendo um locaute, mesmo que indireto, as empresas estão interrompendo o serviço público pelo qual estão sendo pagas para operar. E isso não se pode fazer.

Se os empresários estão ou não recebendo o valor correto, isso é um outro problema. Se acham que não estão, devem buscar uma negociação com a prefeitura ou procurar o Judiciário. Mas, em nenhuma hipótese, podem parar a operação para barganhar dinheiro.

O prefeito pode e deve intervir nas empresas em caso de interrupção dos serviços. Se houver um novo calote aos trabalhadores, para provocar o locaute, seria uma ação necessária e urgente. A cidade de Curitiba não pode ficar refém das chantagens de um grupo de empresários.

André Castelo Branco Machado
,
historiador com mestrado em Tecnologia pela UTFPR, fez parte da auditoria do transporte de Curitiba, em 2013, representando
a sociedade civil.
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