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Estamos em mais uma temporada de verão no nosso litoral e a cena de carros enfileirados para embarcar no ferryboat irá se repetir. Nos últimos meses, o governo do estado reforçou o discurso da implantação de uma ponte sobre a Baía de Guaratuba. Mas de tão debatido e adiado, o projeto já ganhou contornos de lenda urbana.

A viabilidade da construção da Ponte de Guaratuba precisa ser analisada em três pilares fundamentais: técnico, ambiental e financeiro. Do ponto de vista técnico, não há dúvidas da viabilidade da construção da obra. Afinal, nossa engenharia já construiu obras significativas, como a Ponte Rio-Niterói ou a Ponte Estaiada em São Paulo. Um projeto executivo bem elaborado nos dará os subsídios necessários.

Em relação às questões ambientais envolvidas, a solução dos problemas requer uma ampla discussão. Afinal, a obra está dentro de uma região de preservação e não podemos ignorar os impactos ambientais que seriam gerados com uma construção dessa grandeza. Porém, com estudos de impactos ambientais bem feitos e participação de todos os setores envolvidos é possível minimizá-los.

A grande equação é a engenharia financeira necessária para a construção da ponte. Sabemos que o governo do estado não dispõe dos recursos necessários para um investimento desse porte. Além disso, devemos considerar que a obra não pode ser entendida somente como a construção de uma ponte no local onde hoje operam as balsas, mas sim a formação de um corredor viário para a construção da BR-101 no Paraná, no trecho que vai de Garuva à Variante do Alpino (BR-116). Essa intervenção inclusive foi descrita no Plano Estadual de Logística e Transporte do Paraná (PELT), publicação lançada pelo CREA-PR em 2010 que identificou os principais gargalos que impedem a aceleração do desenvolvimento paranaense.

Por isso, a localização da ponte deverá ser precedida de um estudo de novas linhas viárias nas áreas urbanas em Matinhos e Guaratuba que sejam capazes de canalizar o tráfego de veículos sem provocar conflitos com o tráfego local urbano ou provocar degradações no tecido urbano. Ou seja, não podemos construir uma ponte desembocando na praça central de Guaratuba, na forma que hoje são efetuados os acessos às balsas.

A construção da BR-101/PR, cujos traçados referenciais estão em fase final dos estudos técnicos, propiciará que o tráfego pesado do sentido SC-SP desvie a íngreme subida da Serra do Mar via BR-376, como também irá desafogar a travessia de Curitiba pelo Contorno Leste. Seguindo a nova rodovia, o tráfego contornará a Baía de Guaratuba, eliminando a necessidade da ponte para este fluxo, o que alteraria a característica da ponte, que passaria a ser turística e sazonal, o que poderia tornar o investimento economicamente inviável.

Enfim, é importante que os setores envolvidos considerem as variantes e que apenas a construção da ponte não resolverá os problemas logísticos do Litoral do Paraná. O CREA-PR, em conjunto com as entidades de classe no estado, em especial a Associação dos Engenheiros, Arquitetos e Agrônomos de Guaratuba e a Associação dos Engenheiros, Arquitetos e Agrônomos do Litoral, defende não apenas a ponte, mas está à disposição do governo estadual para promover esse amplo debate sobre o tema. Fica, portanto, o desafio para a construção de uma obra perfeitamente exequível do ponto de vista técnico, mas complexa sob a ótica financeira e ambiental.

Joel Krüger, engenheiro civil, é presidente do CREA-PR.

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