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| Foto: Pedro Serapio/Gazeta do Povo

Com a queda de 3,6% em 2016, divulgada pelo IBGE, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro acumulou redução de 9,7% entre abril de 2014 e dezembro do ano passado, o que equivale ao mais profundo e prolongado mergulho recessivo da história republicana.

A depressão foi generalizada, começando pela indústria, ainda em 2014, e atingindo os demais setores no biênio 2015-2016, notadamente os ramos de serviços, que respondem por 73,3% do PIB. Dentre estes, os recuos mais acentuados ocorreram em transporte, armazenagem e correios (-7,1%) e comércio (-6,3%). Constataram-se outras regressões relevantes na agropecuária (-6,6%), na arrecadação de impostos (-6,4%) e na dobradinha constituída por formação bruta de capital fixo e importações, que encolheram 10,2% e 10,3%, respectivamente, fazendo a taxa de investimento, uma espécie de retrato do futuro, descer para 16,4% do PIB, o menor nível desde 2003.

A inquietação coletiva, porém, reside na perspectiva de eliminação do colapso produtivo e no surgimento de um quadro de recuperação sustentada dos níveis de atividade. Em outras palavras, a indagação chave é se a longa e intensa sequência de contração econômica pode ser considerada apenas uma imagem no retrovisor e se os requisitos à formação de um circuito virtuoso já estariam presentes na nação.

A sensação de melhora estaria mais na cabeça das pessoas do que na performance da economia real

Na verdade, a articulação fina entre regressão da inflação, sucessivas rodadas de redução dos juros promovidas pelo Banco Central (BC) e a fincada de importantes estacas para a reversão do desnível das finanças públicas no médio e longo prazo – particularmente a fixação de teto de variação dos gastos da União e o encaminhamento e tramitação da reforma da Previdência, no Congresso Nacional – constitui ativo de restauração da credibilidade no arranjo da estabilização e de retorno da previsibilidade no cálculo econômico.

Não obstante, as perturbações políticas que afligem o governo federal e o Legislativo – cujos membros estratégicos constituem alvos potenciais dos escândalos apurados pela Operação Lava Jato – determinam a conformação de um ambiente caracterizado por modesta reversão do cenário de desconfiança dos atores sociais, marcado pela combinação entre abrandamento do pessimismo e presença de incertezas nada desprezíveis.

Preocupa também a direção e os sinais ainda contraditórios dos principais indicadores econômicos, neste começo de 2017. Enquanto as exportações (notadamente de soja e minério de ferro) e importações (insumos agrícolas e industriais e combustíveis) acusaram evolução, algo que não acontecia desde fins de 2014, e os pedidos de recuperação judicial de empresas regrediram, as solicitações de falência, a produção industrial e o emprego formal e informal prosseguiram em rota descendente.

No fundo, não é difícil perceber que a sensação de melhora estaria mais na cabeça (ou esperança e desejo) das pessoas do que na performance da economia real, o que serve para referendar a hipótese de existência de razoável hiato temporal entre a eliminação e afastamento da conjuntura de retrocesso e o começo de uma fase de expansão consistente.

Considerando que, de acordo com os princípios elementares da economia, entre os dois mundos podem emergir tempos de estagnação, resta uma legítima torcida pelo êxito do agronegócio velho de guerra, que, com safra recorde superior a 220 milhões de toneladas e bafejado por reação da demanda e preços globais, é imbatível. Aliás, os mercados, escutados semanalmente pelo BC na pesquisa Focus, projetam expansão de 0,5% do PIB do Brasil no corrente ano. Mais da metade desse modesto desempenho virá dos efeitos multiplicadores dinâmicos do agronegócio.

Gilmar Mendes Lourenço, economista e consultor, é professor da FAE Business School e ex-presidente do Ipardes.
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