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Apesar de dramáticos, o declínio acumulado de 6,3% do PIB brasileiro, entre abril de 2014 e dezembro de 2015, e o conjunto de desdobramentos negativos a ele acoplados já fazem parte do comportamento pretérito da economia do país. De fato, os movimentos exibidos pelos níveis de atividades no referido intervalo evidenciam a sucessão de equívocos cometidos pela orientação macroeconômica, apoiada em posturas governamentais baseadas, de forma insistente, na perseguição da cura das mazelas através da aplicação de remédios populistas e inadequados.

O pior é que os radares utilizados pelos meios especializados ainda não conseguem captar o fundo do poço recessivo. O que se registra é a marcha ladeira abaixo das principais variáveis determinantes do desenho dos sinais do ciclo conjuntural, a exemplo do volume de vendas do comércio varejista, que contabilizou, em janeiro de 2016, queda de 13,3% em comparação com o mesmo mês de 2015, segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Trata-se da pior marca da série histórica deste indicador, iniciada em 2001, sendo que os 11 segmentos acompanhados expressaram performance negativa, reflexo do fim dos incentivos tributários, da escassez e encarecimento do crédito, da elevação do endividamento e da inadimplência dos consumidores e da redução da massa real de salários, produzida pela combinação entre ampliação do desemprego e escalada inflacionária, que comprime o poder aquisitivo da população. Não por acaso, os saques líquidos das cadernetas de poupança bateram recordes no primeiro bimestre do corrente ano.

A sociedade vem transmitindo a mensagem: retomada do crescimento, só com outro governo

Em idêntico sentido, a produção industrial observou contração de 13,8% em relação a janeiro de 2015. O decréscimo foi generalizado, com ênfase para bens de capital (-35,9%) e de consumo duráveis (-28,2%), porém com recuos igualmente relevantes em bens intermediários (-11,9%) e semiduráveis e não duráveis (-7,2%), também conforme o IBGE.

Nesse caso, além do encolhimento da demanda, ressalta a exacerbação das expectativas desfavoráveis em relação ao futuro, minguando a confiança dos empreendedores fabris, o que interfere nas decisões de investimento. É interessante lembrar que a inversão produtiva de hoje, na ampliação de capacidade ou modernização das plantas, constitui o emprego de amanhã.

No front externo, as estatísticas disponíveis também não são nada animadoras. Na mensuração em dólares, a corrente de comércio exterior brasileiro diminuiu 21,5% no primeiro bimestre de 2016, com compressão de 35,1% das importações e queda de 4,7% das exportações. Logo, o tão comemorado saldo positivo na balança externa deriva essencialmente da enorme dimensão do buraco da recessão interna.

Por tudo isso, as projeções feitas por entidades de fora, englobando o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), e domésticas, como a pesquisa Focus, do Banco Central, têm sido pouco piedosas com o Brasil. Ao indicarem redução próxima de 4% do PIB nacional em 2016, aqueles entes contribuem para a conformação estatística do mais profundo e prolongado colapso econômico já vivido pelo país.

O mais preocupante é que, ao contrário do ocorrido nos tempos de outras crises, desta feita não se vislumbram mobilizações para a formulação de arranjos políticos de escape e superação. A saída é fundamentalmente política. A sociedade vem continuamente transmitindo a mensagem: derrubada dos pilares da instabilidade e retomada do crescimento, só com outro governo.

Gilmar Mendes Lourenço, economista, é professor da FAE Business School.
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