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 | Brunno Covello/Arquivo Gazeta do Povo
| Foto: Brunno Covello/Arquivo Gazeta do Povo

A inovação passa por caminhos da imaginação e da arte criativa (ideia, insight), bem como da engenharia e da técnica (materialização, execução). Nesse percurso, conhecimento é um insumo fundamental. Assim, faz-se necessário que se entendam os processos mentais de construção do conhecimento, bem como da percepção, memória, juízo e raciocínio. Para isso, nada melhor do que analisar os estudos dos pais da teoria da aprendizagem, notadamente David Ausubel (1918-2008), Jean Piaget (1896-1980) e Lev Vygotsky (1896-1934).

Segundo Ausubel, a aprendizagem significativa ocorre quando uma nova informação ancora-se em conceitos relevantes (“subsunçores”) preexistentes na estrutura cognitiva da pessoa. As ideias novas só podem ser aprendidas e retidas de maneira útil caso se refiram a conceitos e proposições já disponíveis, que proporcionam as âncoras conceituais.

Piaget também estudou o modo como acontece o processo de construção do conhecimento. Segundo ele, a capacidade cognitiva humana nasce e se desenvolve, não vindo pronta. Assim, a inteligência humana pode ser estimulada e qualquer indivíduo, independentemente de idade e mesmo considerado inapto, pode adquirir a capacidade de aprender.

É geralmente difícil que uma pessoa só gere uma ideia criativa e também desenvolva o projeto

Vygotsky foi pioneiro no conceito de que o desenvolvimento intelectual ocorre em função das interações sociais e condições de vida. Ele demonstrou como a cultura torna-se parte da natureza humana de cada pessoa por meio das funções psicológicas que, simultaneamente, são resultado da atividade cerebral.

Piaget privilegia a maturação biológica; Vygotsky, o ambiente social. Piaget, por aceitar que os fatores internos preponderam sobre os externos, postula que o desenvolvimento segue uma sequência fixa e universal de estágios. Vygotsky, ao salientar o ambiente social em que a pessoa nasceu, reconhece que, em se variando esse ambiente, o desenvolvimento também se alterará.

O fato é que, ao se analisar os estudos de Ausubel, Piaget e Vygotsky, pode-se concluir que a formação ideal para alguém que deseje inovar é em forma de “T”: é importante ser excelente em uma área do conhecimento (especializar-se, “ir a fundo”, como na perna vertical do “T”), mas também é de grande relevância conhecer, mesmo que superficialmente, diversas outras áreas (parte superior do “T”). Dessa forma, facilita-se a ancoragem de novas informações no subsunçor, ampliando a possibilidade de que haja insights.

Adicionalmente, faz-se relevante que a pessoa construa para si um repertório: lendo, interagindo, reciclando-se, viajando (para conhecer diferentes culturas e modelos mentais) e, ainda, trabalhando em assuntos variados e locais diversificados.

Leia também: Uma união simbiótica (editorial de 3 de junho de 2015)

Leia também: Inovação e ciência brasileira: uma visão pessimista (artigo de Marcelo Lima, publicado em 9 de setembro de 2017)

O que se viu, até aqui, foram aspectos relevantes para quem, como indivíduo, deseja inovar. Em termos institucionais, no entanto, uma possibilidade é utilizar a inovação aberta. Esse termo (open innovation) foi cunhado por Henry Chesbrough, professor da Universidade de Berkeley (Califórnia, EUA). Trata-se do processo de inovação no qual indústrias, universidades e institutos de pesquisa promovem pensamentos, pesquisas e processos abertos, com o objetivo de melhorar o desenvolvimento de produtos, prover melhores serviços para os clientes, aumentar a eficiência e reforçar o valor agregado. Ela é a combinação de insights internos e externos, como também de caminhos internos e externos para o mercado, de modo a avançar no desenvolvimento de novas tecnologias, em produtos e processos. Isso favorece a transdisciplinaridade, contribui para a ancoragem de novas informações no subsunçor e, como consequência, a geração de ideias novas, criativas.

É geralmente difícil que uma pessoa só gere uma ideia criativa (insight) e também desenvolva o projeto (execução, materialização da ideia). O ideal é que se constitua uma equipe transdisciplinar, que trabalhe em cooperação, de forma colaborativa, como preconiza o modelo da inovação aberta. Sob o ponto de vista das organizações, ela é um caminho indicado.

Atingiremos os patamares desejados de progresso socioeconômico quando nosso sistema de ciência, tecnologia e inovação, que tem um imenso potencial, estiver plenamente aberto e atento às necessidades mais urgentes da sociedade. Quando ele deixar de estar tão encastelado, dentro dos muros das universidades, dos centros de pesquisa e das áreas de inovação das empresas. E quando passar a demonstrar ações mais práticas e efetivas, voltadas a perpassar de modo transversal todos os setores da economia, de forma a responder às demandas destes e promover o seu desenvolvimento de forma contínua e sustentável.

Marcos de Lacerda Pessoa, mestre, Ph.D. e pós-doutor em Engenharia, é superintendente de Inovação da Copel, autor de “Sementeira de Inovação” e organizador e editor de “Pinceladas de Inovação”, com lançamento previsto para fevereiro de 2018.
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