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O Brasil está mergulhado em uma tríplice crise: moral, política e econômica. A confiança na política, nos políticos e nas instituições está profundamente abalada. Como agravante, ajudado pela crise internacional, o governo bagunçou os fundamentos da economia e piorou os principais indicadores. O PIB caiu, o desemprego aumentou, a inflação subiu, o orçamento fiscal estourou e o imposto cresceu. Ou seja, é uma crise completa.

As crises têm a função de mostrar o que está funcionando e o que não está, quais práticas se tornaram obsoletas e quais sistemas entraram em colapso. No Brasil, é essencial descobrir quais peças da engrenagem social entraram em colapso e precisam ser deixadas para trás. Um imenso diagnóstico nacional é necessário, a fim de identificar que medidas são requeridas para superar a crise e retomar o caminho da prosperidade. Entretanto, não se trata de apenas superar a crise, trata-se de reformar radicalmente a estrutura da nação.

A sociedade brasileira precisa se perguntar por que o país insiste em continuar pobre e afundado nos erros de sempre

Fazendo análise da crise norte-americana, o presidente da General Eletric, Jeffrey Immelt, disse algo interessante: “Esta crise econômica não representa um ciclo; representa um colapso, um doloroso reset. Um reset emocional, social e econômico. As pessoas que entenderem isso prosperarão. Quem não entender ficará para trás”. Por reset podemos entender uma grande reorganização política, social e econômica, um “recomeço” tanto para as pessoas, quanto para as empresas e o governo.

O Brasil precisa se reinventar. Ao fim do regime militar, dizia-se que o país tinha de ser “passado a limpo”, epígrafe usada como mote para a nova Constituição aprovada em outubro de 1988, infelizmente um ano antes da queda do muro de Berlim e antes da derrocada do império soviético. Tivesse se atrasado um ano, talvez não teria sido contaminada por ideias do comunismo, regime que desabou por ter se tornado uma fábrica de pobreza e de repressão, ao custo de 100 milhões de vidas exterminadas.

A questão é saber se o Brasil aproveitará a tríplice crise para fazer um amplo debate nacional e iniciar um grande recomeço. A sociedade brasileira precisa se perguntar por que, sendo tão rico de recursos, o país insiste em continuar pobre e afundado nos erros de sempre. Em entrevista à Globo News, o senador José Serra afirmou que o debate no Brasil acabou, inclusive no Congresso. Se no parlamento – uma Casa que deveria ser exemplo de inteligência e saber – o debate inexiste, dá para imaginar o que ocorre nos estados e nos municípios.

De início, o grande recomeço do Brasil passa por ampliar e modernizar a infraestrutura e transformar o sistema educacional. O progresso na era da criatividade e da inovação depende essencialmente do capital humano, para o que é necessário transformar a educação. Ao comentar estudo do Banco Mundial sobre a educação brasileira, o jornal Financial Times observou, em 2009, que “o capital humano parece ser o ponto crítico para a entrada do Brasil na economia do conhecimento”.

A história revela que as grandes crises podem conter a semente de grandes revoluções tecnológicas. Isso ocorreu com a recuperação alemã após ser devastada pela guerra e ocorreu também com a grande depressão dos anos 1930. A explosão de inovações tecnológicas e de invenções após esses dois eventos criou as bases para a expansão mundial das décadas após o fim da Segunda Guerra Mundial. Cabe a nós aproveitar ou não a tríplice crise que se abateu sobre o Brasil.

José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade Positivo.
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