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A França, que em meados do Século XX, era uma das maiores potências militares e econômicas, se rendeu para a Alemanha nazista em um mês. Paris foi conquistada praticamente sem que um tiro fosse disparado. Segundo relatos dos historiadores, o governo francês não queria que os alemães destruíssem a “Cidade Luz”. Melhor se render ao inimigo e, nesse contexto, o nome do francês Pétain é um triste exemplo. A invasão começou em 10 de maio de 1940 e a rendição oficial foi em 22 de junho. Demorou um pouco, pois Hitler fez questão de que o documento fosse assinado no mesmo vagão de trem onde a rendição alemã foi assinada ao término da I guerra. Era sua vingança.
Após a derrota acachapante, Adolf Hitler incorporou a Alsácia e Lorena como territórios germânicos. O norte da França, incluindo Paris, virou Zona de Ocupação alemã. O centro-sul, chamado de França Livre, o que era mentira, foi entregue para administração do traidor Marechal Henri Philippe Benoni Omer Joseph Pétain, um belo nome para um traidor, colaboracionista dos nazistas, um pau mandado.
O medo é o pior conselheiro numa guerra, a Rússia tem que ser parada com todas as forças. A Ucrânia não é a França de Vichy, Zelensky não é Pétain, Putin pensa que é Hitler, mas é uma caricatura de Stalin
Vladimir Putin achou que conquistaria a Ucrânia tão fácil como Hitler conquistou a França. Mais ainda, acreditou que tomaria a Ucrânia da mesma maneira que Hitler anexou a Áustria. Em 1938, os austríacos receberam a Wermarcht com flores e aplausos. Putin se enganou, o exército russo foi recebido a tiros por um povo que não aceita ser dominado e subjugado por uma potência estrangeira.
Putin também pensou que Volodymyr Zelensky se entregaria facilmente, como fez o Marechal Pétain, ou fugiria para os Estados Unidos, como fez De Gaulle ao ir para a Inglaterra. Zelensky uniu o povo ucraniano na defesa da pátria e, enquanto escrevo este texto, 15 dias depois da invasão, comanda de um bunker a resistência contra os invasores.
Vladimir Putin, como todos os ditadores, vive num palácio de marfim, isolado da realidade, ouve apenas quem o elogia e concorda com ele. Calou a oposição (já prendeu até agora mais de 13 mil russos que protestavam contra a guerra) e eliminou a imprensa livre. Na Rússia, até a palavra guerra está proibida.
O carniceiro de Moscou vive numa realidade paralela e por isso tomou essas decisões tão erradas. Como todos os ditadores, ele imagina que é adorado pelo povo, seus comparsas e os oligarcas repetem sempre isso, e os ucranianos se ajoelhariam para ele. Ele jamais imaginou que a Ucrânia não aceitaria ser controlada pela Rússia. Afinal de contas, quem não sonha em ser dominado por um líder que caça ursos, é faixa preta de judô e anda a cavalo sem camisa?
Putin é o perfeito ditador retratado por Woody Allen no seu filme Bananas, onde o ridículo beirava o surreal. Para Putin, Zelensky era apenas um humorista que fugiria ao primeiro tiro e os ucranianos um povo fraco a ser dominado pelo seu imenso ego.
Volodymyr Zelensky continua a pedir que a Europa e os Estados Unidos não tenham medo de enfrentar Putin, assim como os ucranianos não tiveram e mostraram que o exército russo não é tudo o que a propaganda dizia. O presidente Macron, que volta e meia liga para Putin, acha que vai convencê-lo a depor as armas na conversa, deveria lembrar o que aconteceu com a França em 1940.
O medo é o pior conselheiro numa guerra, a Rússia tem que ser parada com todas as forças. A Ucrânia não é a França de Vichy, Zelensky não é Pétain, Putin pensa que é Hitler, mas é uma caricatura de Stalin.
Marcio Pitliuk é escritor e palestrante especialista no Holocausto, membro do Conselho Acadêmico do Stand With US e curador do Memorial do Holocausto de São Paulo.
Conteúdo editado por: Jocelaine Santos



