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Nem todo aluno pode comer de tudo. Intolerância à lactose, doença celíaca, diabetes, hipertensão, obesidade, seletividade alimentar, veganismo. Esses são só alguns dos motivos pelos quais milhares de crianças em escolas públicas precisam de refeições adaptadas, de uma alimentação especial. Mas como garantir que essas crianças se alimentem bem – e se sintam incluídas?
Esse é o desafio diário para quem fornece alimentação especial, feitas sob medida para alunos com restrições alimentares ou escolhas específicas. Principalmente, quando o fornecimento é para as escolas públicas. A proposta vai muito além de tirar ingredientes do prato. É buscar manter o máximo de semelhança entre a alimentação especial e o cardápio servido aos colegas. Assim, a criança com dieta restrita continua participando do momento da refeição com os amigos, sem se sentir excluída ou “diferente”.
Para receber uma alimentação especial, os pais precisam apresentar um laudo médico à Secretaria de Educação. A partir daí, nutricionistas avaliam o caso e definem um cardápio personalizado para a criança. O trabalho é hercúleo, pois muitas vezes envolve a distribuição de centenas de variações de cardápios. E essa alimentação especial são preparadas em cozinha especial, numa produção tradicional para evitar qualquer risco de contaminação cruzada. Maior cuidado ainda é para os chamados “preparos severos”, usada para dietas extremamente restritivas, como casos de fenilcetonúria ou alergias múltiplas.
Cada refeição especial é embalada individualmente, com etiquetas que trazem o nome do aluno, a escola, o tipo de dieta e o turno. Tudo é resfriado e transportado em caixas térmicas, garantindo que a comida chegue em segurança e na temperatura ideal. Ao chegar na escola, atendentes treinadas conferem, reaquecem (se necessário) e entregam a refeição diretamente ao aluno.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, cerca de 35% dos brasileiros têm algum grau de intolerância à lactose. Essa é a principal causa dos pedidos de dieta especial em Curitiba (PR), por exemplo. Isso exige atualização constante, controle rigoroso e muito planejamento. Mas mais do que seguir uma prescrição médica, esse trabalho também tem um lado humano: garantir que essas crianças se sintam parte do grupo. Afinal, comida também é afeto, convivência, inclusão.
A escola é o espaço onde se aprende muito mais do que disciplinas de diversas matérias. E isso vale também para a alimentação. Criar hábitos saudáveis desde a infância e respeitar as necessidades de cada aluno é um dos papéis da merenda escolar moderna. Oferecer uma refeição segura, nutritiva e que acolha todas as crianças é parte do compromisso com uma educação mais justa e inclusiva. E quando cada criança recebe o que precisa, sem abrir mão do sabor nem da convivência, todo mundo ganha. Ganham as crianças e a sociedade, cada vez mais consciente que alimentação especial e nutricional são também meios pelos quais devemos ensinar a inclusão.
Catiane Zelak Abreu, nutricionista e gerente de relacionamento com o cliente do Grupo Risotolândia.



