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Nunca se falou tanto sobre o câncer de mama e, mais objetivamente, sobre reconstrução mamária no cenário nacional e internacional. Objeto de iniciativas louváveis com campanhas de sucesso e ampla divulgação na mídia, o câncer de mama apresenta uma estatística confiável e que muitas vezes causa espanto: uma em cada oito mulheres terá câncer de mama até os 80 anos. A incidência alta traz para bem perto de todas nós a possibilidade de vivenciar, seja por experiência pessoal ou de parentes próximos, toda a complexidade da doença. Reconhecidamente um fator amenizador de todo esse processo traumático, os procedimentos de reconstrução mamária têm sido trazidos à tona e alguns aspectos de grande importância devem ser esclarecidos.

Recentemente, a aprovação da chamada "Lei Débora", que regulamenta a reconstrução mamária imediata no mesmo tempo cirúrgico da realização da mastectomia, trouxe esperança às pacientes tratadas pelo SUS. Se realizada no mesmo tempo cirúrgico da mastectomia, a reconstrução traz a possiblidade de melhores resultados estéticos. Porém, essa nova determinação contida na lei esbarra em um fato: atualmente são poucos os serviços de oncologia conveniados ao SUS que apresentam em sua equipe multidisciplinar cirurgiões plásticos que estejam disponíveis para realizar tais procedimentos. A especialidade quase sempre é vista como dispensável e poucos concursos públicos para esta área são realizados. Na teoria, mais uma vez, a lei parece viável e de fácil execução. Esquece-se, porém, que há de se prover o SUS com estrutura e profissionais habilitados para executá-la.

Angelina Jolie recentemente realizou a retirada de ambas as mamas (adenomastectomia profilática) devido ao histórico familiar de câncer de mama. Associado a isto, apresentava teste genético compatível com maior risco de ocorrência. A procura de pacientes em nossos consultórios para informações sobre a retirada preventiva das mamas foi grande após esse fato. As reconstruções mamárias, sejam as realizadas para o tratamento de tumores ou para a redução do risco de aparecimento de neoplasia, envolvem múltiplas etapas, vários tempos cirúrgicos e exigem comprometimento, tanto das pacientes quanto de seus cirurgiões. Demandam a constituição de equipes preparadas e infraestrutura adequada para se obter os melhores resultados possíveis, altos índices de satisfação e baixas taxas de complicações.

As reconstruções não se assemelham (e nem podem ser comparadas) à colocação de próteses mamárias com fins estéticos. É importante salientar que o resultado estético da colocação da prótese mamária após a adenomastectomia é inferior ao obtido em casos de cirurgia estética. Isto ocorre pois a ausência de tecido mamário confere menor cobertura do implante, levando à alteração da textura, temperatura e forma.

Portanto, nosso governo, antes de definir programas de tratamento, deveria fazer um inventário da situação, definindo locais para realização, concursos para contratação de mastologistas para a retirada da mama e cirurgiões plásticos para a sua reconstrução. Atualmente poucos serviços dispõem desses profissionais. Também as mulheres que serão submetidas aos procedimentos profiláticos devem ser orientadas quanto às vantagens e desvantagens desse método.

Maria Cecília Closs Ono e Renato da Silva Freitas são médicos do Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital de Clínicas da UFPR.

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