
Ouça este conteúdo
O Holocausto não começou com câmaras de gás. Ele terminou assim. Começou com acusações. Com a desumanização de um povo em parlamentos, com slogans repetidos em panfletos e rádios, pregando a morte e o extermínio de judeus, o antissemitismo. Eles sempre foram perseguidos onde estiveram. A leniência e até mesmo o incentivo das autoridades levaram a milhões de mortos em 1945.
É por isso que manifestações de cunho antissemita, especialmente quando partem de autoridades públicas, precisam ser tratadas com absoluta seriedade. Recentemente, durante uma sessão plenária da Câmara Municipal de Porto Alegre, uma vereadora do Partido dos Trabalhadores (PT), usou a tribuna para acusar Israel de genocídio, defender boicotes a empresas com base em nacionalidade e repetir a expressão “do rio ao mar” – usada pelos terroristas do Hamas para pregar a destruição do Estado de Israel.
A expressão “do rio ao mar” normaliza a intolerância, encoraja radicais e transforma judeus em alvos. Quando essas ideias partem de figuras públicas, com mandato e visibilidade, o impacto é ainda mais grave
As acusações da vereadora contra o Estado de Israel e o povo judeu ultrapassaram todos os limites legais convencionados após a Segunda Guerra Mundial. Não se trata de uma crítica a ações de governo, mas sim de desumanização, antissemitismo, que carrega o peso de séculos de intolerância, perseguição e extermínio. Trata-se de slogans associados a ideologias que não admitem a convivência com o povo judeu – apenas sua eliminação.
A expressão “do rio ao mar” normaliza a intolerância, encoraja radicais e transforma judeus em alvos. Quando essas ideias partem de figuras públicas, com mandato e visibilidade, o impacto é ainda mais grave, elas legitimam o ódio e ampliam o risco de que esse ambiente de hostilidade se converta em violência real – com agressões, ameaças, pichações e até ataques físicos.
Esse risco não é teórico. Em diferentes partes do mundo – inclusive no Brasil – sinagogas já foram vandalizadas, pessoas foram agredidas por usar símbolos judaicos e famílias passaram a evitar manifestações públicas de sua fé. Em Porto Alegre, essa realidade ainda não se materializou com força – mas os sinais de alerta estão dados. E ignorá-los seria uma irresponsabilidade histórica.
A comunidade judaica em Porto Alegre é discreta, pacífica e profundamente integrada à vida local. Ela participa ativamente da construção da cidade há gerações – na cultura, na economia, na ciência e na educação. E hoje vive sob o receio legítimo de ser alvo de uma onda de intolerância que parece ganhar força justamente onde deveria haver equilíbrio e responsabilidade: dentro das instituições democráticas.
É fundamental dizer com todas as letras, que criticar governos faz parte da democracia. Mas defender, direta ou indiretamente, organizações como o Hamas – que promovem massacres, sequestros e o terror como ferramenta política – é ultrapassar todos os limites da civilidade. É cruzar a linha entre o dissenso e o extremismo. Slogans têm consequências. E quando pronunciados por quem detém mandato, ganham ainda mais peso. O antissemitismo, se tolerado, não para por aí. Ele anda. Ele age. Ele fere.
É por isso que não podemos ser lenientes. Antissemitismo é crime, e precisa ser combatido com coragem, com lucidez e com urgência – antes que se transforme em ameaça real à vida de famílias judias em Porto Alegre ou qualquer cidade do Brasil. Antes que a história se repita, com novos protagonistas, nas nossas ruas.
Ramiro Rosário é vereador de Porto Alegre pelo Partido NOVO.



