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As intervenções estrangeiras no Afeganistão

Militantes do Talibã se reúnem em praça central após tomar o controle de Kandahar, Afeganistão, 13 de agosto (Foto: EFE/EPA/STRINGER)

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Após 20 anos do ciclo intervencionista aplicado pelos Estados Unidos no Afeganistão, agora em 2021 os americanos retiram suas tropas e entregam o país para o grupo Talibã. George W. Bush, Barack Obama, Donald Trump e Joe Biden foram os presidentes que estiveram à frente da Casa Branca ao longo deste período. Partiram de uma “Guerra ao Terror” iniciada após o atentado de 11 de setembro de 2001 e formada por uma coalização ocidental contra o terrorismo. Passando por uma operação falida de “Nation Building” com a participação e financiamento de organizações internacionais. E chegando à catástrofe humanitária representada pela retirada das tropas de Cabul vista nos últimos dias e que fecha o ciclo de participação militar dos EUA nesse país.

Do ponto de vista histórico, esse foi um ciclo curto e trágico. A cronologia de intervenções estrangeiras no país retrocede ao século 19, quando da primeira guerra anglo-afegã entre 1839-1842; a segunda, entre 1878-1880; e, ainda, uma terceira, entre maio e agosto de 1919. Todas demarcam sua independência dos britânicos. Já entre 1939 e 1945 o país manteve-se neutro diante da maior guerra da história (a Segunda Guerra Mundial), sucedida pela Guerra Fria, um período que o Afeganistão se tornou um teatro de guerra entre EUA e União Soviética. A República Democrática do Afeganistão durou de 1978 a 1992 e estabeleceu um conjunto de medidas internas para formação de um estado de base socialista, desconexa das tradições religiosas dos afegãos.

A rivalidade entre o Partido Democrático do Afeganistão (apoiado pelos soviéticos) e os futuros Senhores da Guerra Afegãos (os mujahedins apoiados e subsidiados pelos norte-americanos) culminou na retirada das tropas soviéticas em fevereiro de 1989. O período entre a retirada soviética e a intervenção americana em 2001 é marcado por uma guerra civil e o controle do estado pelos Talibãs no fim dos anos 2000.

Quando saímos do ciclo curto de intervenção norte-americana e voltamos aos dois últimos séculos de história afegã, constatamos a perenidade da guerra na história dessa população. Os ciclos britânico, soviético e norte-americano forjaram a relação dessa população com as potências estrangeiras e evidenciaram como esse país foi usado como teatro de operações de guerra por mais de um século.

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Os objetivos de proteção humanitária, da valorização da vida humana, da proteção dos civis e o respeito às liberdades religiosas sempre estiveram abaixo dos interesses estratégicos das grandes potências para o Afeganistão. As imagens da semana, além de demonstrarem o fim de uma operação falida, reforçaram uma infeliz regra de ouro na história das relações internacionais: os interesses estratégicos estão acima dos direitos humanos.

André Frota é professor de Relações Internacionais e Geociências do Centro Universitário Internacional Uninter.

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