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Embora o Enem destine-se à avaliação do ensino médio, os seus resultados em 2015, com 53 mil alunos zerando na redação e queda da nota em três das quatro áreas do conhecimento, implicam importante lição para as universidades. Afinal, elas herdam anualmente um problema crônico do ensino brasileiro, que é a má qualidade da escola pública e o melhor nível das particulares nos ciclos da educação básica, gerando uma distorção: majoritariamente, os que podem pagar colégios privados ingressam nas instituições públicas de ensino superior; os remanescentes das redes públicas vão para as particulares, normalmente tendo de trabalhar de dia para custear as mensalidades, estudando à noite.

Universidade privada boa com preço acessível é cada vez mais pertinente e necessária no Brasil

Foi essa realidade distorcida que me levou a repensar o modelo da universidade privada no Brasil e propor em termos práticos a sua transformação, ministrando ensino superior de qualidade, com foco preciso na formação de profissionais e pessoas capazes de desempenhar múltiplas ocupações no mercado de trabalho, a um preço que numerosas famílias e jovens brasileiros podem pagar. Ou seja: faculdade boa e barata e, portanto, realmente transformadora das vidas dos estudantes. Inclusive, em muitas situações, ministrando conteúdo, no período inicial, que contribui para o resgate do conhecimento básico perdido ou mal assimilado no ensino médio.

Isso funcionou muito bem nas instituições que dirigi. A rigor, trata-se do mesmo raciocínio das cotas, mas elevado a uma dimensão imensa, jamais alcançada anteriormente no Brasil e em países com perfil socioeconômico semelhante ao nosso. Trata-se de oferecer aos alunos das escolas públicas da educação básica a oportunidade de acesso a ensino superior de excelência, capaz de promover sua ascensão econômica e a melhoria do padrão da vida de suas famílias. Universidade privada boa com preço acessível é cada vez mais pertinente e necessária no Brasil.

Esse modelo é parte da resposta óbvia a um problema muito sério, antigo e até então insolúvel da educação brasileira: o acesso de grande contingente de alunos, antes com poucas oportunidades, a um nível de ensino superior capaz de mudar seu futuro. É importante que todas as instituições universitárias particulares façam uma profunda reflexão sobre o tema. Ao mesmo tempo, o governo não pode desmobilizar ou reduzir programas como o Universidade para Todos (ProUni) e o Financiamento Estudantil (Fies), que cumprem missão relevante na democratização da academia. O contingenciamento de verbas da educação, no âmbito do ajuste fiscal, tem levado a um equívoco na gestão dos dois projetos.

Por outro lado, o esforço das universidades particulares não dispensa a mais importante de todas as soluções para as deficiências apontadas pelo Enem: educação básica de qualidade nas escolas públicas, em suas três etapas, ou seja, a infantil, o ensino fundamental e o médio. O Brasil não pode seguir relegando essa prioridade a segundo plano. Atendê-la significa mobilização ampla e políticas públicas eficazes da União, estados e municípios, assumindo a responsabilidade constitucional que lhes cabe na formação escolar, com excelência, de todos os brasileiros.

Antonio Carbonari Netto, matemático, mestre em Administração, Educação e Comunicação e MBA em Gestão Universitária, é vice-presidente do Sindicato das Entidades Mantenedoras de Ensino Superior do Estado de São Paulo.
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