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É preciso admitir e tornar público que os três anos da atual gestão do governo do Paraná frustraram, até mesmo as mais contidas expectativas que considerassem o tema da conservação da biodiversidade como parte integrante de uma agenda de prioridades. Gestões passadas pouco efetivas neste campo reforçavam ainda mais a oportunidade e a premência em se buscar um avanço realmente qualificado.

Se tomarmos por referência os informes publicitários do governo estadual, veiculados sistematicamente na mídia, podemos observar seu íntimo alinhamento com o discurso federal. É revelador: a agenda pobre em inovações e compromissos com a conservação, explicitada pela propaganda pública, é um retrato do momento vivido em nosso país, em que a janela das oportunidades de crescimento econômico não reflete, nem de longe, os avanços com os cuidados com o patrimônio natural.

Nunca é demasiado retomar a questão dos custos econômicos e sociais decorrentes da degradação ambiental. Mesmo sem saber, pagamos extremamente caro pelo desleixo com os nossos remanescentes naturais. Estamos ampliando os riscos de desastres ambientais, cada vez mais frequentes e intensos, com a perda da qualidade de solos, por exemplo. O desleixo atual com iniciativas de fiscalização e controle referendam um alinhamento que dialoga com o passado e não reconhece, de fato, a importância em proteger a natureza.

Esta é a realidade que sustenta a inibição da agenda da conservação, embora represente um fator fundamental para qualquer modelo de desenvolvimento mais responsável. A visão obtusa continua sendo onipotente, promovendo a mudança de leis, favorecendo irregularmente o que deveria ser executado de maneira mais consciente e impedindo, conscientemente, a estruturação adequada de órgãos ambientais e da execução de seus programas específicos, que mínguam sem qualquer condição de predominarem, frente ao modelo que ainda mantemos, por conveniência e incapacidade.

Os fatos reforçam as posições negativistas de que possibilidades de avanços nesse campo não passam de promessas no vazio, dentro da mais velha demagogia desenvolvimentista e "cara de pau", já bem conhecida de alguns brasileiros. O Programa Bioclima, lançado no início de 2012 pelo governo estadual, representava uma promessa de mudanças. Uma promessa formalizada que propunha avanços reais, mas que ainda não se mostrou na prática. O tempo se esvai. E, com ele, as expectativas de alguma movimentação mais consistente.

Parece que a atual gestão ficará marcada como mais uma tentativa frustrada dos paranaenses em incluir a conservação da natureza em suas prioridades. Não se trata apenas da desmoralização de mais um governo. Mas, sim, da perda das últimas oportunidades que temos para reversão do quadro atual de degradação de nosso estado. Este é um negócio que o Paraná não poderia perder.

A todos que se esforçam para mudar este cenário, dentro e fora do governo, a persistência em cobrar até o último minuto representa mais do que uma esperança: é uma obrigação de quem está convencido da necessidade de mudanças e não aceita passivamente o que está nos sendo imposto de forma medíocre e irresponsável.

Clóvis Borges é diretor-executivo da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS).

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