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Desde que o acrônimo "Bric" foi cunhado, em 2003, muito se tem escrito e divulgado a respeito dos quatro países representados pela sigla: Brasil, Rússia, Índia e China. No entanto, a maior parte dessas comparações leva em consideração índices de crescimento econômico e projeções futuras. Caso se compare, por exemplo, tamanho das populações, apenas a Índia e a China poderão ser colocadas no mesmo patamar. Outros índices, embora desconsiderados, mostram a grandeza chinesa, e como é injusta a comparação com o Brasil.

Henry Kissinger, secretário de Estado dos Estados Unidos entre as décadas de 1960 e 1970, ao falar a respeito da China, nos lembra que "quando os caracteres chineses surgiram, durante a dinastia Shang, no segundo milênio a.C., o antigo Egito se encontrava no auge de sua glória. As grandes cidades-Estado da Grécia clássica ainda não haviam surgido e Roma estava a um milênio de distância". Esse pensamento serve para nos mostrar a grandeza e "milenaridade" da nação asiática. Para nós, brasileiros, é difícil compreender um país de existência contínua tão longínqua. Se os chineses de hoje conseguem ler pergaminhos de séculos passados, nós conseguimos identificar poucas letras e palavras na carta escrita por Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal por ocasião do descobrimento do Brasil.

Além da diferença temporal entre Brasil e China, o país asiático foi a nação mais rica do mundo em 18 dos últimos 20 séculos, e até pouco antes da Primeira Revolução Industrial representava cerca de 30% do que se produzia no mundo. Atualmente, conforme destacou o economista Ricardo Amorim, a China investe a cada três meses o equivalente a todo o estoque de infraestrutura existente no Brasil.

Para nosso pesar, não temos um crescimento econômico pujante como o chinês, e tampouco a mesma infraestrutura. Talvez seja justamente por esse motivo que tenhamos ainda tanta dificuldade em escoar nossas produções para o exterior e em transportar mercadorias por nossas estradas. De acordo com a Organização Mundial do Comércio, o Brasil é apenas o 22.º país em exportações. Se, no decorrer dos debates eleitorais, muito se falou a respeito dos gargalos logísticos e do chamado "custo Brasil", agora é necessário que nos debrucemos com afinco sobre esses temas não mais para discuti-los, mas para resolvê-los de uma vez por todas.

Para que tornemos mais justa a comparação entre os Brics, o governo deverá preocupar-se em reduzir seus próprios gastos, para possibilitar investimentos pelos quais já esperamos muito, e não mais podemos esperar. Que o dinheiro de nossos impostos sirva para a construção de portos, aeroportos, rodovias e ferrovias em nosso país, e não em nossos vizinhos. Quem sabe assim, algum dia, possamos ser comparados aos chineses não só no crescimento econômico, mas na criação de condições essenciais para que ele de fato aconteça.

João Alfredo Lopes Nyegray, advogado, formado em Relações Internacionais, especialista em Relações Internacionais e Negócios Internacionais e mestre em Internacionalização e Estratégia, é professor do Estação Business School na disciplina de Negócios Internacionais e professor convidado do Isae/FGV-PR e do Grupo Uninter.

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