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Brasil mais envelhecido exige ações imediatas para futuro saudável

O envelhecimento da população deixou de ser um mero dado demográfico para se tornar um dos grandes debates do século no Brasil. (Foto: Julia Vivcharyk/Unsplash )

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O tema da redação do Enem 2025 – “Perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira” – foi um ponto de partida muito importante para os jovens refletirem sobre uma realidade que, apesar de parecer distante para eles, é uma questão que está chegando ao centro das políticas públicas, da economia e da vida cotidiana. Quando falamos em “perspectivas”, não falamos sobre aquilo que já passou, mas do que está por vir: como vamos garantir que milhões de brasileiros envelheçam com independência, autonomia e propósito de vida?

Sob diversos pontos de vista, da promoção de saúde à Previdência Social, o envelhecimento da população deixou de ser um mero dado demográfico para se tornar um dos grandes debates do século no Brasil. Hoje, são mais de 32 milhões de pessoas com 60 anos ou mais no país, e as projeções indicam que, dentro de 20 a 30 anos, seremos uma das populações mais envelhecidas das Américas.

Trabalhamos para que cada pessoa idosa tenha acesso ao cuidado com qualidade, autonomia e dignidade – e para que o estado siga contribuindo com o debate nacional sobre envelhecimento

Esse quadro aproxima o Brasil de desafios já enfrentados em lugares como Japão, Canadá e Espanha – nações que investem há décadas em “aging policies” voltadas à longevidade ativa, redes de cuidado comunitário, programas de convivência, adaptação urbana e participação social do idoso. Esses exemplos ajudam a mostrar que envelhecer pode ser sinônimo de viver bem quando há planejamento e políticas pensadas para essa população.

No Paraná, é esse entendimento que orienta nossas ações. O estado vive, também, um processo acelerado de mudança demográfica: são mais de 2 milhões de pessoas idosas, representando 17,6% da população. Entre 2010 e 2022, mais de 70% do crescimento populacional ocorreu nesse grupo, e as projeções indicam que já em 2027 teremos mais pessoas idosas do que crianças e adolescentes.

Isso exige novas respostas para o enfrentamento de estigmas que ainda cercam essa etapa da vida – assim como uma abordagem integrada em relação a condições de saúde controláveis, como hipertensão arterial e diabetes tipo 2, quadros de sarcopenia, osteoporose, declínio cognitivo, depressão, entre outras condições que são mais comuns nesse ciclo de vida.

Desde 2019, a Secretaria da Saúde do Paraná (Sesa-PR) conta com uma área técnica multidisciplinar dedicada integralmente à saúde da pessoa idosa. É nesse contexto que estruturamos o Projeto Envelhecer com Saúde no Paraná, voltado a fortalecer a atenção integral à pessoa idosa e preparar nossas equipes para os desafios atuais e futuros. Um dos pilares dessa estratégia chegou no final de novembro: o lançamento do curso introdutório Linha de Cuidado à Saúde da Pessoa Idosa, com 30 horas de formação à distância para alcançar profissionais de todo o estado. Além do curso on-line, as equipes da Rede de Atenção à Saúde recebem capacitações e práticas presenciais – em 2024, mais de 4 mil profissionais participaram da educação permanente.

Tudo isso vai ao encontro do fato de que, em média, apenas uma a cada quatro pessoas idosas do Paraná dispõe de plano de saúde, de acordo com a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) – ou seja, o Sistema Único de Saúde (SUS) permanece como o principal responsável pelo cuidado dessa população. Somente em 2024, mais de 8,6 milhões de consultas foram realizadas para esse grupo no estado; em 2025, até outubro, ultrapassamos 7,9 milhões.

As equipes utilizam ferramentas como a Avaliação Multidimensional, a Caderneta de Saúde da Pessoa Idosa e o Sistema de Informação da Pessoa Idosa (SIPI), além do Índice de Vulnerabilidade Clínico-Funcional (IVCF-20), instrumento validado pelo Ministério da Saúde e de fácil aplicação, que permite identificar fragilidades precocemente. O Paraná também tem um indicador específico para repasse financeiro voltado à qualificação da saúde da pessoa idosa (âmbito do Programa de Qualificação da Atenção Primária à Saúde – Proaps), com metas e orientações baseadas em dados para um planejamento mais eficiente por parte dos municípios.

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Na ponta, também temos uma forte atuação comunitária. A parceria com a Pastoral da Pessoa Idosa permite levar orientações diretamente aos lares, fortalecendo vínculos e ampliando o acesso à informação. Quando investimos na formação das equipes, na organização da rede de atenção e na construção de políticas que dialogam com a realidade da população, fazemos mais do que responder a um desafio. Criamos um projeto de futuro – sim, porque “futuro” é uma palavra que está no horizonte das pessoas idosas.

O Paraná segue comprometido com essa visão. Trabalhamos para que cada pessoa idosa tenha acesso ao cuidado com qualidade, autonomia e dignidade – e para que o estado siga contribuindo com o debate nacional sobre envelhecimento, oferecendo caminhos inspiradores para o Brasil do amanhã.

Beto Preto é secretário de Estado da Saúde do Paraná.

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos

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