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Brasil, o país dos apaixonados pelo poder

Confesso que já fui mais entusiasta e militante; no momento sou apenas um simples observador do Brasil. (Foto: Daniel Costa/Unsplash )

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“Deus tem do mais alto dos céus as rédeas de todos os reinos, tem todos os corações em suas mãos” (Bossuet). Já houve um tempo, nesse nosso grande país Brasil, em que a vida era um tanto mais simples, por assim dizer: um governante tinha a admiração do povo, afinal, se pensava que ele governava em favor de todos, sem fazer acepção de quem quer que fosse. Havia honra envolvida.

Um fato realmente lamentável no Brasil – sob todos os aspectos – ocorreu quando, num momento de caos perene, os militares resolveram dar “uma ajudinha”, assumindo assim o comando verde-oliva da nação. Organizando, suprimindo, exortando com sua face sisuda, sobrancelha erguida e dedo em riste, enquanto pairava um céu de Brigadeiro. De fato, espalhando certo temor.

Entretanto, aquilo que tinha a proposta do “provisório” foi se alongando, e o verde, desbotando, e o povo, cansando. Tanto é verdade que, após inúmeras manifestações, se decidiu por eleições diretas, abertas e democráticas no Brasil. A democracia, embora seja uma palavra até bonita, na prática carrega um fardo extremamente pesado, uma feiura burocrática e sujeita a alianças perigosas.

Um governo pode – embora não deva – ser colocado mais à esquerda ou à direita do poder, mas não do povo que governa, do qual é servo. Qualquer movimento, para um lado ou outro, irá atrair uma multidão de bajuladores e dependentes também. Uma lástima.

Aquilo que reputávamos por honrado e digno no passado veio a ser objeto (abjeto) de desprezo por vezes. Quem estaria apto a julgar os governantes? Por certo não é tarefa pequena, concordo, mas necessária. E o grande tribunal responsável por tão grande missão tem atuado em diversas ocasiões, afastando, impedindo e mesmo prendendo mandatários, sejam vermelhos estrelados ou de outras cores partidárias. O que gerava comemoração no passado gera apreensão no presente.

No entanto, a discórdia e a gritaria com os juízes, além de não ser saudável, parecem ser uma hipocrisia, visto que esses, de espalhafatosos figurinos esvoaçantes, são nomeados, escolhidos e selecionados pelos próprios governantes, a seu tempo, é claro. Muito justo que sejam esses mesmos a julgá-los. Temos a esperança, porém, de que o juiz seja um tanto parecido com o do futebol: ouvimos o apito, mas o que mais importa é a beleza do jogo. O que quero dizer é que, na medida do aceitável, um juiz não apareça mais do que a lei e a constituição que apregoa.

A história, que em algum momento joga uma luz sobre os fatos atuais (infelizmente a maioria não conhece história), é a grande mestra da verdade. Se você deseja saber como se desenrolará tudo isso, o passado pode, como qualquer profeta, lhe revelar. Vivemos o tempo de caça: a caça às bruxas, vampiros, javalis e políticos. Ou qualquer um que contrarie nosso posicionamento.

O grande mal esteja, talvez, em que todos os envolvidos são figuras apaixonadas, e não na melhor acepção da palavra, digo, mas amantes de seus status, cargos e grupos. Sejam juízes, políticos ou militares, todos estão insuflados por posições e posicionamentos. Espera-se que alguém, nessa República, seja mais razoável, racional e sem paixão para analisar com mais seriedade, como o momento merece.

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Deveras, não temos aquilo que sobrava em Mujica, Gandhi ou Churchill. O que sobra é certo “servilismo” intelectual e financeiro, uma dependência – por escolha – de fatores externos que pretendem comandar nossa intimidade e vivência. Ora, todos temos amizades que nos são muito caras. Como eu, creio que muitos de vocês possuem amigos no exterior, em qualquer rincão desse mundão de meu Deus. O interesse comum me parece ser o de estreitar ainda mais, aproximar, unir de tal maneira que as fronteiras sejam mais convidativas, que aquilo que conseguimos via mundo digital seja feito também no físico, que não haja mais barreiras. Ainda que todas as estradas não levem mais a Roma, que nos levem ao redor do mundo sem constrangimento.

Talvez pareça “utópico” demais, é possível. Mas veja: minha opinião é que, diferente dos contos de fadas, nossa realidade é desesperadora. O bom de um conto de fadas, da ficção, é que, embora Frodo, Peter Pan e o Homem de Lata não sejam reais, ao menos no reino da fantasia o bem sempre vence o mal. Em algum momento somos levados a olhar para o quintal de algum vizinho, seja da Europa, Ásia ou mesmo um sul-americano. É preciso se importar com as pessoas dessas regiões mais do que com seus políticos. No entanto, não devemos nos preocupar, pois, como citei acima, a história mostra que, inevitavelmente, todos serão substituídos, cedo ou tarde. Ufa, ainda bem.

Confesso que já fui mais entusiasta e militante; no momento sou apenas um simples observador do Brasil. Quer tenha me afastado por descaso, má gerência ou sofrimento de tanta gente, o fato é que, no momento, é melhor estar de fora disso tudo. Mas não sou um total alienado desiludido. Tenho esperança de que as coisas mudem. Aliás, pode ser que estejamos todos sonhando e que amanhã acordemos na aurora de um novo dia, repleto de harmonia e comunhão entre todos. Ou possa ser que meu ponto de vista esteja totalmente errado, o que seria melhor.

Em todo caso, fica aqui meu apelo aos mais sábios e entendidos da nação, à imprensa comprometida com a verdade – toda ela – e a todas as famílias, para que nossos dias sejam vividos pensando nas novas gerações que virão. Se nós mesmos não comeremos o doce fruto da concórdia, que deixemos tudo preparado para que eles desfrutem.

Luiz Dias é escritor, conferencista, teólogo e idealizador junto com sua esposa do Projeto Barnabé, ONG que atende pessoas em situação de vulnerabilidade.

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos

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