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Ciência, ciência, ciência. Mas onde?
| Foto: Pixabay

O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, que é médico ortopedista, saiu clamando por “ciência, ciência, ciência”. Ora, onde entra a ciência nessa pandemia? Médicos – que estão na linha de frente do combate ao vírus – não são cientistas, a menos que sejam também pesquisadores. Os cientistas estão, de fato, nos laboratórios de universidades e entidades privadas, onde há uma corrida pela vacina contra a Covid-19.

A medicina é uma prática cujo objetivo é o cuidado dos doentes e a prevenção das doenças. Trata-se de um trabalho fundamental em qualquer país, principalmente durante uma pandemia como a que enfrentamos agora, mas nenhum ortopedista ou cardiologista pode falar em nome da ciência. Muito menos alguém como Tedros Adhanom, diretor-geral da OMS, cargo a que chegou através da política – e com o explícito apoio da ditadura comunista chinesa.

Nenhum médico, dentro dos hospitais e centros de saúde, tem tempo e formação para pesquisar novos medicamentos. O que os médicos fazem é ministrar remédios que podem ou não curar os pacientes, de acordo com os protocolos da medicina e dos órgãos de saúde, além das práticas cirúrgicas.

Hoje, nada de realmente novo existe que não seja resultado de pesquisa científica. A ciência e a tecnologia revolucionam permanentemente todos os setores: social, econômico, político, militar, industrial, além de cultural e intelectual. É necessário reconhecer, porém, que, apesar de todos os avanços, o modo científico de pensar ainda está longe de ser universal. A tecnologia já conquistou os corações, mas a ciência não alcançou as mentes.

O fato é que a cultura científica, de que o homem necessita para compreender o mundo em que vive e nele sobreviver, não se consolidou nem mesmo nos países economicamente mais avançados. Segundo a Associação Americana para o Progresso da Ciência (AAS), em seu ambicioso “Project 2016”, são pressupostos dessa cultura: familiarizar-se com o mundo natural, reconhecendo sua diversidade e sua unidade; entender os conceitos fundamentais e os princípios científicos; perceber a inter-relação entre matemática, as ciências e a tecnologia; levar em conta que a ciência e a tecnologia são empreendimentos humanos e, como tais, sujeitas a erros e limitações; e, finalmente, adquirir a capacidade de pensar de acordo com as exigências do rigor científico.

Ocorre que, diante de tais exigências, apenas 7% dos adultos britânicos ou norte-americanos podem ser medianamente cultos em ciência. No Brasil, então, a situação deve ser ainda mais catastrófica: proliferam as pseudociências, a superstição, as crendices e o charlatanismo. Sirvam de exemplo o terraplanismo e a rejeição às vacinas. E nem se fale na anticiência dos letrados, pretensos humanistas, cuja visão de futuro é a nostalgia de um passado idealizado.

É dos grandes laboratórios que virá a solução para o coronavírus. É neles que estão os cientistas, nessa corrida mundial por uma vacina. Os grupos de pesquisadores certamente incluem médicos, muitos dos quais, aliás, se dedicam mais à pesquisa científica que à prática médica exercida nos consultórios e hospitais.

Ciência, sim, mas ela ainda não tem nada a nos dizer de concreto sobre a pandemia. Tentativa e erro são os pressupostos de seu método. Um dia o resultado positivo virá. Até lá, todo cuidado é pouco. Sigamos os conselhos da medicina, mas sabendo que eles não trazem – nem podem trazer – alguma certeza.

Orlando Tambosi é professor aposentado da UFSC, jornalista e doutor em Filosofia.

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